A Perda
Hoje é silente o teu lugar. nada mais me interpela, me ferra à existência como um ato de Sade! o corpo marulha ou se queda nos abismos sinusóides das vagas, estonteado com o sal e os cabelos emaranhados; bofetões de vento e arrepelos expõem as entranhas e os enredos de beijos, que verdes algas levam depois ao fundo e prendem aos cascos de navios pútridos - jazem fora de controlo, suspiram e rangem uma existência dúbia. o corpo afoga o suplício perante os gritos álgicos das gaivotas e os sussurros cúmplices dos golfinhos. procura-te por entre as rajadas em destempero. duvida se passaste por ele acelerado e inconstante. cheirou o teu cheiro. tão imperfeito, não conseguiu capturar-te. incapaz, é sacudido de rompante e atirado à espuma - sossobra na queda e desmaia de dor. dor de te perder em tanta imensidão. vencido, o corpo abandona-se, mistura as moles nos infinitos agudos, nas facadas de luz e súbitas trevas, nos vislumbres de vultos difusos onde não serás avistado. como poderás sê-lo...