Perfume

Saudades do perfume do teu fluir. deixa-me torná-lo presente.
fragâncias escapam de ti em pequenos pulsares ritmados. iniciam uma breve melodia - maestro - com que despertas a imersão em devir.
depois perpetras o coração. o centro. o tema encorpado que evapora vagarosamente.
cai a noite. perdura a nota densa, a resina, a madeira ou a pele impregnada.
joga entretanto a sedução do teu frasear curto, pontilhado de sentidos subtis e inesperados, que vogam na brisa. vêm, por vezes, como magnetes ao meu encontro, noutras, sem rumo, desperdiçam-se em infinitos, ou, quem sabe, estimulam distraídas memórias de unguentos de faraós ou extratos florais persas na destilaria de Ibne Sina.
como eram esses aromas! essas notas anelares perfeitas, voláteis e ressonantes: sugestões de arabescos em fundos limpos, originários das tuas pausas, ausências e vazios.
em espaços de suspensão cósmica perduram vibrações de ti: essências de terra, charuto, cravo, madeira, canela, almíscar, florais, cítricos, orientais e outros.
o perfume do teu ser tem esta presença espectral, mais estável do que deveria ser, mais simétrica do que se presumia.


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