Uma História com um Zé
Rosemere ouvia os seus passos e media a sombra na calçada, que àquela hora era curta, enquanto arfava com o calor. - Boa tarde, Dona Cláudia; - Boa tarde, senhor Aniceto - dava e recebia cumprimentos breves e continuava desarvorada estrada afora. Era indiferente ao que dizia, ao que lhe respondiam, preocupada que estava com o chegar. Engolia a calçada em grandes passadas, movia-se como uma máquina de produção, a rotina de andar, andar para chegar depressa. Nem a poeira da brisa rasteira a anunciar mudança de tempo lhe desviava a atenção. Ela era poeira também, a levantar voo, desarranjada, incomodativa, de partida para nenhures -, que não voltaria a pousar por ali! Ao chegar ao quintalinho da sua casa, empurrou a portinhola que pintara há uns dias, agradecendo por na altura não se ter levantado aquele pó que lhe estragaria o trabalho e perturbaria a higiene da casa. Nesse dia, teria odiado a poeira e praguejado, mas hoje, com a terra solta grudada nas pernas a suar, só lhe ocorre ...