Fragmentos
A aluna ficava frequentemente internada. Tinha hemofília - informava. Às vezes faltava por outro motivo: ia à baixa de Lisboa. Ficava a olhar para a janela do apartamento onde vivera com a mãe, que falecera com cancro. Sentava-se onde calhasse, do outro lado da rua, e ficava concentrada no passado, a matar e a recriar - saudades. Muitas saudades. Um casal espanhol oferecera-se para a adotar, mas a mulher também tinha cancro. Beatriz não sentiu forças para perder uma segunda mãe. Não quis! Bea vivia com a avó, um tio, um primo. O tio tinha-lhe batido com um fio elétrico. Podia mostrar. Aqui. (Silêncio). Como seria uma nódoa negra numa pele africana? - alguém desejou enfiar-se num buraco - que vergonha! A avó tinha falecido. O tio já emigrara. Sim Bea tinha muita família espalhada pelo mundo. Gente importante. Endinheirada. Mas não! Queria manter a casa. Ela e o primo seriam a família que sobrava. Não queriam incomodar ninguém. Não era hemofilia. A mãe não morrera de can...