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A mostrar mensagens de outubro, 2022

Alberto

Alberto Bridgetown é um homem com meio século vivido, de têmpora rija e atração magnética, em que o revés de ser tímido rendeu em introspeção e leitura compulsiva.  Na juventude, Alberto aproveitou o clima revolucionário para experimentar identidades políticas e jogos relacionais e daí veio a tendência para uma atitude de observação laboratorial escrupulosa da reação humana, em particular a feminina, às suas subtis influências. Dessa altura data ainda a personagem que representa no Mundo: um caráter nebuloso e difícil de se fazer compreendido. "Sou impossível", diz de si, desviando a semântica do termo para os domínios do capricho. Alberto Bridgetown, diferenciado, quase aristocrático, um temperamento reduzido "au" vinagre balsâmico, de fino e peculiar humor aplicado às fragilidades alheias. Subtis sugestões e ambiguidades marcam a ferros quem bem entende e reserva "para a vida" outras relações que estima. Por isso, ninguém o conhece a preceito e ele voga ...

Aldeia

 A aldeia ficava no vale. As casas, que pareciam ter sido sacudidas para o veio central, dispunham-se encavalitadas como migalhas. Os habitantes trabalhavam para os donos das grandes quintas e algum conterrâneo menos desafortunado. Com o tempo, as terras foram passando de quem as tinha para quem as trabalhava. Às vezes havia até casamento entre a aristocracia rural e os novos burgueses, se assim se lhes pode chamar. Por isso, as gentes foram-se misturando e as histórias de senhores e párias diluiram-se na memória coletiva, especialmente na dos mais novos. Tal homogeneidade, que deixava de fora apenas alguns marginais, carecia de heróis. Foi assim que a dada altura surgiram acumuladores de terras que as compravam com ganância, aproveitando a sua desvalorização e a imitação de vida urbana que muita gente fazia. Do nada surgiam artistas das mais variadas áreas. A aldeia terciarizava-se à vista de todos com a proliferação de pequenos negócios. As terras voltavam a ser reunidas em pouca...

Ghassan do mIRC

Hi. Iam Ghassan, from Lebanon. Iam a palestinian guy, living in Lahore. Criei o canal Mirna no mIRC, onde sou o administrador. Vejam: @ghassan. Mirna em homenagem à minha prometida que morreu num bombardeamento em Shatila. Agora estudo engenharia civil na universidade de Lahore. Divirto-me a conviver com os meus conterrâneos da Palestina nos canais do mIRC. A partir dele conversamos também com ocidentais, geralmente mulheres. Somos sedutores e gentis. Convidamo-los a apoiar a nossa causa, a fazer manifestações à porta das embaixadas de Israel, namoriscamos, combinamos encontros. Os meus amigos já se encontraram com alemãs, eu tenho uma canadiana; há também raparigas dos Estados Unidos e de outros locais. Alguns dos meus amigos conseguem ir em comitivas visitar países europeus. É uma honra saber que o castelo de Lisboa foi construído pelos nossos, ou ir a Alhambra e sentir-se em casa... Sou fluente em inglês e aprendo web design - dizem que é o futuro! Quando me formar vou para o Sudão ...

Regresso

Ela regressou. Voltou a si! Sabem daquele palpitar dentro?! Ela sentiu-o! Da vontade de cantarolar Dido? Foi o sinal! A sede que matou com água límpida tornou-a fresca e saborosa. Deu-lhe vontade de dançar. Adivinhou-se feliz quando o coração descompassou e o corpo falou de baixo a cima. Escutou-os. Depois devolveu ao redor um olhar casual. As trepadeiras pendulares filtravam os raios angulosos do sol e os mosquitos da tarde, azafamados, zuniam em nuvem. Viu-os. As flores dos canteiros próximos ao riacho puseram-se a fazer gracinhas sedutoras, quando ela as olhou. Púrpura, violeta, magenta salpicaram o verdão da folhagem... As cascatas pequenas desfiaram o tempo quando as olhou, até os fios de água moldarem o corpo dela e pingarem pelos cabelos, dedos e seios. Nas árvores próximas a fruta madura espera, resiste à gravidade e reserva o néctar pintado de cores namoradeiras para o seu palato. Deitada à superfície, sente as vagas que lhe embalam o corpo negligente e nu, em contorno pleno....