A Atriz de Hollywood
Serena era de uma fealdade feérica. O rosto assimétrico, comprido, com cicatrizes, o nariz caprichoso e disforme, o cabelo pardo, seco e espigado. Empertigava-se na máscara da maquilhagem, os lábios oferecidos em vermelho obsceno, a saia canudo constrangedoramente curta, de onde se soltam umas canetas envoltas em collants de rede. As sapatolas desmanteladas. E um sorriso maravilhoso, verdadeiramente transbordante de confiança e positividade. Ao pé dela ficava-se contorcido como um ponto de interrogação. "What the hell is this?!" Serena afirmava convicta que faltaria muito pouco para receber um convite de Hollywood, que estava já a começar os ensaios, que me podia mostrar as cartas de convite e até já havia competição entre estúdios pois era reconhecida como uma estrela em potência. Serena era uma jovem adulta. O seu sorriso era contagiante. Ao ouvi-la a náusea crescia cor de malva e a cheirar a Ylang Ylang. Apiedava-se o coração, que amordaçava a razão. A razão de amar no outro a sua sã loucura. Como era feliz Serena! Como vinha motivada para as aulas da noite, onde, diziam, não aprendia nada. Queria evoluir. Aprender inglês, ter cultura geral. Tinha que ser! O talento para representar não era tudo, tinha plena consciência. Não iriam desviá-la com os convites. Iria primeiro fazer o 12º. ano. Era importante. E logo a seguir aceitaria a melhor proposta. Boa noite Doutora. Posso vir todas as segundas falar consigo? Gosto muito. É bom para mim.