As roupas informais aconchegam-se-lhe à pele mumificada enquanto passeia no  jardim contíguo ao palacete de Verão acompanhado pelo rumor imaginário das vestes de Leila, volúvel como a sombra à direção incerta da brisa, permeável ao contorno das ervas e árvores junto ao canal. É interrompido pela alegria vivaz de Ramuk que salta até ao peito e o esmaga até uma dor abrupta se avivar. Sente os olhos humidecerem de gratidão pela clareza da sensação que contraria a tendência confusa e lúgubre do remorso que se vem escavando sob os seus pés, como uma invasão assassina em conjuração nas bases da sua existência. Pode por momentos sentir o aroma acre e forte da vegetação junto ao canal pleno de vida, combinado com os lampejos incendiários da superfície estrelada de insectos em intenso labor. Suspira abrindo os pulmões. Captura de catadupa o piar chamativo das fêmeas do urubu,  as cores ocre-pastel do orlado deserto quase adivinhadas no horizonte errático, vencidas por aromas de café e xerez. Toques fugazes de essência que só a memória pode apurar como um vinho delicado aberto após demorada maturação pelo seu autor... Leila!...

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