Carta 2 – Tu em Mim

Truz-truz, estás aí? Quem és? Como vens vestido? Diz-me a cor da camisola para eu te reconhecer!  Vi-te tão poucas vezes e há tanto tempo que não te sinto... Está frio aqui... passam vultos, seres só com contorno vago e conteúdo gelatinoso, quase transparente, quase sombra, seres que se movem vertiginosamente no mesmo lugar e eu viro-me para o teu ângulo de visão (para ondo penso que possas olhar) e grito: socorroooo! Como naquele quadro de Munch.... 

Estás aí??? Truz-truz! Responde, estás?...Quanto de ti está aí?! Deixa ver como reages ao toque! Deixa lamber-te e absorver-te por todos os sentidos... Deixa-te passar também pelos meus poros e ajuda-me a recriar uma imagem de ti dentro de mim, para que me seja familiar, para que sinta o conforto de te reconhecer, para contar contigo numa extensão de mim, para perturbares o meu conteúdo e me revolveres qb e depois se me acalmar a mistura estabilizada! Dá-te-me e dá-me tempo depois de ti! Para fazer este cozinhar...

Por favor, não te assustes de mim, comigo.... sou frágil, se estremeces, eu grito, se te espantas, eu pulo para trás, não me assustes com o teu susto, porque sou frágil! Sinto-me frágil!

Pouco te conhecia quando estiquei meus braços para ti, mãos abertas, peito nu, para te conhecer, para me conheceres...  Deste-te...um pouco, mas ergueste muros, acantonaste-te! Quanto de ti está aí?

“Sou simples, básico” disseste. O que queres dizer com isso? Simples como as cadeiras de madeira nua e lisa que magoam o corpo? Simples como as cadeiras Gonçalo, com caráter, design e bom gosto?!

Já eu, não estou certa do meu grau de simplicidade verso complexidade. Mas vou tentar!  A minha alma será simples, transparente; tal  é também o meu sorriso, o meu sentir....
O meu pensamento poderá parecer complexo, mas depende da perspetiva. Eu acho que tenho coragem para procurar e manter-me no caos das ideias, no emaranhado de explicações, durante uma fase, até repousar na simplicidade que busco, na síntese, na conclusão, e de novo, recomeçar a questionar, na dialética do conhecimento.

Mas não te assustes (e também não me quero assustar a mim mesma), vou procurar estar contigo com o meu lado simples, sol e lua, vou procurar colinho em ti, miminho, a força no acreditar, segurança e poesia, conselhos práticos e a tua sabedoria de viver...

Está bem assim? Não é rígido, mas terei de me esforçar, terás de me lembrar desta questão da simplicidade de acreditar que a verdade existe como um copo que se segura e vê.

E esta carta mostra como é difícil falar simples...mas vou tentar. Prometo!

Your´s sincerely


Mensagens populares deste blogue

Madressilva

O Belo

Fragmentos