O Chefe Máximo.
Muito foi o caminho até aqui chegar. A mãe, doméstica, como se dizia, acompanhava com esforço os seus progressos na escola, fomentando o sucesso na expetativa da ascenção social. Um dia serás Doutor! Mas Máximo achou mais prudente evitar o liceu. Acomodou-se pela escola técnica de artes e artesãos e logo se veria. Já trabalhava na oficina do pai. Dava para a boite. Dava para uns discos dos Pink Floyd. Para comprar uma nova guitarra e umas jeans de marca. Não era fácil, mas os amigos eram dali do bairro da periferia. Ninguém que o superasse muito nas posses. Por isso, talvez por isso, não tinha querido ir para o bairro de Alvalade, onde havia o liceu. Não queria suportar os queques e sentir-se humilhado. Haveria de lá chegar! Era paciente! Foi estudando os movimentos ascendentes de alguns desafortunados que vingaram na vida. Leu biografias. Sonhou e aguardou.
A namorada engravidou. Já casados, voltou a engravidar. Arranjou um pé de meia no comércio local. Compraram casa que venderam e tornaram a comprar e de novo trocaram, como muita gente à época. Depois fez o curso para equivalência a licenciatura e de caminho o mestrado com o olho em algo mais. Os amigos ficaram para trás. Pouco os vê! Desenvolveu aquele tom de voz meio quente, meio lento, bem colocado, pontuado pelo tique no pescoço quando se sente "fino", assim como que em ponta de pés; espreitou oportunidades e subiu por projetos ditos inovadores na escola onde era professor, à direção, à autarquia, ao ministério. A sua carreira era uma ascenção que lhe trazia muitas expetativas: as máximas! Os filhos na universidade, os netos a nascer, a esposa sempre amiga; a casa ficou a mesma, a última; a crise, a ajuda aos filhos na sua independência... Agora apostava tudo na proximidade a membros do governo, convicto em que se reparassem na estética das suas ações tão conformes ao previsto e paradoxalmente ditas de inovadoras, a sua vida se cumpriria nesse destino fatal que era o sucesso! Hoje não era apenas doutor, era o chefe de muitos doutores, centenas e de engenheiros também. Tinha muito poder!
As amantes não puderam permanecer, doseou-as com racionamento. Focou-se. Mas a Francisca, a Rosa e a Manela... gostava de fazê-las padecer em público, senti-las a implodir de raiva, ficarem paralisadas de rancor, inábeis, sem se defenderem. E tudo isto sem que a sua imagem de homem evoluído, sofresse qualquer belisco. Dava-lhe aquele gostinho pela exaustão de ter há tanto tempo de ser comportadinho! Tanta estupidez, tanto mulheredo, credo! Pudesse e ia para copos com amigos, como gente. Sempre fez sacríficios para ficar bem na biografia. Calou todos, quase todos, os que lhe viram o estalar do verniz, domou uns tantos como o cão do pastor faz às ovelhinhas dóceis! Que gozo lhe dava ofender, provocar. Sabia que todas as suas acusações se tornavam profecias. Respondeu a processos em tribunal por bullying! Por bullying!, sorria e musicava a voz para dizê-lo. Os seus jogos eram bem sucedidos. A realidade mostrava isso mesmo. Quem observava, aprendia, sem que ele tivesse de se meter em chatices com os aguerridos. Bastava enviar o sinal, humilhando as dóceis criaturas que explodiam para dentro. Respeitava os brutos. Era muito evoluído quando queria, tinha um brilhantismo político, um elan distinto, ideias progressistas bem alinhadas com o main stream e podia captar as tendências da moda em comunicação. Era convidado para conferências. Dava uma boa imagem de si. Estudava o campo, o ministério, a autarquia, para onde se movimentaria. Os amigos de hoje, que aguardavam a mudança de posições no tabuleiro do poder, convertia-os rapidamente ao ridículo, se o passo político seguinte tivesse sido falso alarme e os planos se alterassem. Caíam como dominós, mesmo os mais poderosos. Havia uns estupidamente resilientes, que ele se dedicava a torturar recursivamente, alternando com momentos de neutralidade ou mesmo de uma certa candura na voz e no discurso: sentia-se um Maquiavel.
Mas o tempo passava, já se aproximava a reforma, a paciência imensa ia faltando; mais gritos, explosões, desta vez desnecessárias, mas vicio de descarregar aquela tensão que se ia acumulando com o muro do fim da vida a aproximar-se lento, mas firme. Teria desta vez de fazer algo diferente! O salto tinha que ser dado. O tempo era, agora!
O que fará o chefe Máximo?
A namorada engravidou. Já casados, voltou a engravidar. Arranjou um pé de meia no comércio local. Compraram casa que venderam e tornaram a comprar e de novo trocaram, como muita gente à época. Depois fez o curso para equivalência a licenciatura e de caminho o mestrado com o olho em algo mais. Os amigos ficaram para trás. Pouco os vê! Desenvolveu aquele tom de voz meio quente, meio lento, bem colocado, pontuado pelo tique no pescoço quando se sente "fino", assim como que em ponta de pés; espreitou oportunidades e subiu por projetos ditos inovadores na escola onde era professor, à direção, à autarquia, ao ministério. A sua carreira era uma ascenção que lhe trazia muitas expetativas: as máximas! Os filhos na universidade, os netos a nascer, a esposa sempre amiga; a casa ficou a mesma, a última; a crise, a ajuda aos filhos na sua independência... Agora apostava tudo na proximidade a membros do governo, convicto em que se reparassem na estética das suas ações tão conformes ao previsto e paradoxalmente ditas de inovadoras, a sua vida se cumpriria nesse destino fatal que era o sucesso! Hoje não era apenas doutor, era o chefe de muitos doutores, centenas e de engenheiros também. Tinha muito poder!
As amantes não puderam permanecer, doseou-as com racionamento. Focou-se. Mas a Francisca, a Rosa e a Manela... gostava de fazê-las padecer em público, senti-las a implodir de raiva, ficarem paralisadas de rancor, inábeis, sem se defenderem. E tudo isto sem que a sua imagem de homem evoluído, sofresse qualquer belisco. Dava-lhe aquele gostinho pela exaustão de ter há tanto tempo de ser comportadinho! Tanta estupidez, tanto mulheredo, credo! Pudesse e ia para copos com amigos, como gente. Sempre fez sacríficios para ficar bem na biografia. Calou todos, quase todos, os que lhe viram o estalar do verniz, domou uns tantos como o cão do pastor faz às ovelhinhas dóceis! Que gozo lhe dava ofender, provocar. Sabia que todas as suas acusações se tornavam profecias. Respondeu a processos em tribunal por bullying! Por bullying!, sorria e musicava a voz para dizê-lo. Os seus jogos eram bem sucedidos. A realidade mostrava isso mesmo. Quem observava, aprendia, sem que ele tivesse de se meter em chatices com os aguerridos. Bastava enviar o sinal, humilhando as dóceis criaturas que explodiam para dentro. Respeitava os brutos. Era muito evoluído quando queria, tinha um brilhantismo político, um elan distinto, ideias progressistas bem alinhadas com o main stream e podia captar as tendências da moda em comunicação. Era convidado para conferências. Dava uma boa imagem de si. Estudava o campo, o ministério, a autarquia, para onde se movimentaria. Os amigos de hoje, que aguardavam a mudança de posições no tabuleiro do poder, convertia-os rapidamente ao ridículo, se o passo político seguinte tivesse sido falso alarme e os planos se alterassem. Caíam como dominós, mesmo os mais poderosos. Havia uns estupidamente resilientes, que ele se dedicava a torturar recursivamente, alternando com momentos de neutralidade ou mesmo de uma certa candura na voz e no discurso: sentia-se um Maquiavel.
Mas o tempo passava, já se aproximava a reforma, a paciência imensa ia faltando; mais gritos, explosões, desta vez desnecessárias, mas vicio de descarregar aquela tensão que se ia acumulando com o muro do fim da vida a aproximar-se lento, mas firme. Teria desta vez de fazer algo diferente! O salto tinha que ser dado. O tempo era, agora!
O que fará o chefe Máximo?