A árvore .
Não há arte tão bela como a da árvore. qualquer uma. é quase humilhante para um humano a epifania da árvore. como tem ela engenho e tempo de se desenhar singular ao mais ínfimo pormenor? não há árvore feia. já reparaste? nem má. nem inútil, para o homem universal. a árvore é acolhimento dialógico: dos pássaros, dos insetos, dos fungos e de outros em concêntricos mundos, imensamente. qual o seu saber viver? em oikos fazer parte, fazer o que tem de ser. convicta. não deprime por ser mais uma, nem por estar só. árvore ereta ou orgulhosamente contorcida a gemer ao vento, a espraiar veios e desbobramento. matizes de verdes infinitos abrem-se para o céu. sábia geómetra: aproveita o incremento de superfície que há entre o solo e a copa. já viste como se multiplica em altura? como prospera em existência? mesmo quando se retorce, resiliente, sem dor - até bonsai- se conforma. símbolo de toda a possibilidade. árvore. sequência que se dá em simultaneidade e ordem. solidez. estrutura. história. memória em nós. há aquela árvore que faz parte da família, como o cão. só lhe falta o nome. porque não damos nome à árvore? e quando ela sabe ser mata ou floresta?! como sabe o seu lugar e se ajusta a qualquer circunstância! tanto é imbondeiro intemporal, como frutífera erótica na primavera e generosa no tempo da dávida. às vezes morre na sua singularidade mas cremos que em cada semente se emula a própria eternidade. pois que é mãe de filhos impartilhados. si mesma em cada semente ou talo. nela a individualidade é uma humilde coincidência espácio-temporal. apenas. gestos de árvore: dança em câmara muito lenta num tempo maior de dinossauro; mãos erguidas em dávida ou prece. árvore musical. ou credes que haveria pássaros sem haver árvore? e se os houvesse não seria a mesma coisa! e as raízes simétricas. lado lunar da árvore. esquissos intrincados, pálidos. e as copas amantizadas com o sol dispostas como arcos em catedrais góticas. onde pensas se inspirou o arquiteto? e a sombra? dá a hora e dá também o raio da terra, que se revela redonda. ou não sabias? quando estiveres próximo da árvore olha para ela com respeito, invoca-a, ela é tua mãe, uma das mães veneráveis da Terra. absorve a tua ira e fraturas de ti, sara as cicatrizes. dá-te consistência, unidade e uma tranquila dissolução num Eu partilhado. sólida a maternalidade da árvore. a ternura que te devolve num abraço. já envolveste uma árvore com os braços? aprende com a árvore que vai desde o assombramento ao sol e à lua - como a arquetípica nórdica Yggdrasil - e mais um pouco além porque existem esses seres complexos que reverberam quânticos - em seus níveis mínimos - e se abrem a infinitas possibilidades exóticas inentendíveis: humanos. em demasia!