Farol.


Paisagem. farol. sinais do cá para o longe à noite: cónicos ou pulsantes; de dia: figura para os fundos. fundos vaidosos de azuis de vestir o céu. azuis de tantos nomes que não digo. não ligo. aguarelas. já me ocupo mais com os caprichos irrepetíveis de nuvens de espairar, de enrolar, de imaginar, de seguir com o olhar. soprar nuvens. cirros. cúmulos. e outras. distraio-me com gaivotas. as suas rotas. os pormenores da vida social das gaivotas. o arranhar da calma solta pelos gritos histriónicos das gaivotas. farol. abraços circulares de vento salgado, doce ou quebrado. ladainha de sereias insatisfeitas. espectros suspensos em universos paralelos. gaivotas. como namoram com o farol, as gaivotas? trazem rimas do mar? o que pode contar quem voa a quem sabe do navegar. e vice-versa. como um dedo no ar o farol se aponta a si mesmo na ordem dos sinais da fala. ou é falo? pater das pequenas criaturas imperfeitas - embarcações - que se divisam a diluir no denso mar. protetor. sábio. guardião. desde a ilha primeira de Pharo, Alexandria, até à turbulência fatal. mas esse foi o primeiro farol. talvez. agora cada farol é eterno. listrado a vermelho ou azul o farol de altivez mítica erge-se em limítrofes de mundos e guia de um para outro. sem corromper o silêncio à noite. sem perturbar a planura ao dia. é por isso que se listra de cor viva. horizontal. para quebrar o vício de furar o céu como um dedo a apontar. poderia ser como um ponto final ou de exclamação, que é sempre inicial doutra oração ou de outro texto ou do vazio intersticial entre textos e tudo o resto. mas não. num compromisso com a oposição de elementos da geometria de Euclides, listra-se com dois ou três aneis vermelhos ou azuis a mitigar a protuberação, que é, por anátema. sobe-lhe a maresia. sabor de peixe. peixe come peixe. cadeias infinitas no mar. rios dentro de mar dentro de oceanos, em universos estanques. dentre os infinitos, o farol se aclama. farol de tramas cinematográficas se abandonado. intimidação. escadas circulares. assassinatos. gritos temporários. quedas. farol de namoros escondidos. atrevidos. instinto liberto aos dois infinitos: o céu e o mar. o mais indomável vem. no entanto. de dentro. das trocas químicas do olhar. e penso: que farol na vida que navego?!

Mensagens populares deste blogue

Madressilva

O Belo

Fragmentos