O Namorado Nininho
Não sei quando tudo começou, mas permaneceu até à puberdade como o seu melhor amigo para brincar, aliás: namorado. Carlos, o Nininho, tinha um espólio de brinquedos muito incaracterístico, não só pela vastidão, como por não ter seleção de género. Carrinhos de todos os tipos e tamanhos, mecanismos, kits científicos, legos, muita loiça e miniaturas da vida doméstica, bonecas, enfim!.. Um paraíso! Mas o melhor era mesmo a criatura: o mais gentil e cordato parceiro de brincadeira. Ela era a mais velha: tinha mais três meses, o que na altura era muito importante!
Um dia a criançada ficou em alvoraço: ia nascer um irmão ao Nininho e ninguém percebia como aquilo tinha podido acontecer, aquela barriga, à beira de se transformar num irmão. Claro que todos tinham tido um transporte primeiro: uns era de avião (esses vinham de Paris), outros de camioneta, de mota, e acho, que uns viriam mesmo de cegonha. Agora, uma barriga!... Aqueles argumentos, calavam-nos: ninguém debatia este assunto algo estranho. Mas o irmão do Nininho estava numa barriga! Certo dia o Nininho aparece na casa dela muito eufórico: tinha descoberto o mistério. Tentou explicar, mas ela não percebeu nada: algo como a mãe e o pai no quarto... Não fazia sentido, o ato vulgar não explicava a singularidade: um irmão! Então ele associou ao seu próprio corpo e propôs saírem da vigilância dos adultos. Esconderam-se atrás da porta da sala. Caíram-lhe os calções e ele apontou para a "origem". Era para ela uma revelação, mas achou a coisa tão irrelevante e pouco lógica. Estava o pobre Carlos a tentar explicar quando uma catadupa de acontecimentos, culpabilizações e ralhetes se sucederam. Fizeram queixa à família dele, que desvalorizou. Separam-nos. Ficaram uma eternidade sem poder brincar juntos. Havia algo de que se deveriam envergonhar, sem que percebessem bem o quê. O irmão do Nininho nasceu, acontecimento envolto em alguma tristeza, superior ao mistério. Depois recuperaram o contacto, mas nem se sabe como ficou, até que a puberdade os separou para sempre. Com o Nininho ela teve um modelo de relação amistosa, de pleno desfrute, descomplexada e autêntica entre homem e mulher.
Um dia a criançada ficou em alvoraço: ia nascer um irmão ao Nininho e ninguém percebia como aquilo tinha podido acontecer, aquela barriga, à beira de se transformar num irmão. Claro que todos tinham tido um transporte primeiro: uns era de avião (esses vinham de Paris), outros de camioneta, de mota, e acho, que uns viriam mesmo de cegonha. Agora, uma barriga!... Aqueles argumentos, calavam-nos: ninguém debatia este assunto algo estranho. Mas o irmão do Nininho estava numa barriga! Certo dia o Nininho aparece na casa dela muito eufórico: tinha descoberto o mistério. Tentou explicar, mas ela não percebeu nada: algo como a mãe e o pai no quarto... Não fazia sentido, o ato vulgar não explicava a singularidade: um irmão! Então ele associou ao seu próprio corpo e propôs saírem da vigilância dos adultos. Esconderam-se atrás da porta da sala. Caíram-lhe os calções e ele apontou para a "origem". Era para ela uma revelação, mas achou a coisa tão irrelevante e pouco lógica. Estava o pobre Carlos a tentar explicar quando uma catadupa de acontecimentos, culpabilizações e ralhetes se sucederam. Fizeram queixa à família dele, que desvalorizou. Separam-nos. Ficaram uma eternidade sem poder brincar juntos. Havia algo de que se deveriam envergonhar, sem que percebessem bem o quê. O irmão do Nininho nasceu, acontecimento envolto em alguma tristeza, superior ao mistério. Depois recuperaram o contacto, mas nem se sabe como ficou, até que a puberdade os separou para sempre. Com o Nininho ela teve um modelo de relação amistosa, de pleno desfrute, descomplexada e autêntica entre homem e mulher.