O Tédio.

Toda a gente sabe que o tédio é cinzento. pardacento. que à noite se insinua em insónia e se deita tarde depois de esgotar os olhos e a massa cinzenta mesmo atrás dos olhos. o tédio folheia livros e rejeita quase todos. só raramente se orgasmia numa linha de trama. uma língua que o lambe. e quando finalmente cede o corpo à dormência, vai molhado. sente isso. a vida que há na saliva e faz sentir que há frio no calor. o tédio é sabor misturado de todos os fragmentos como o caril, o grelhado, a salada, o molho tártaro e a cerveja e o café. tudo condensado. pardo. o tédio é porco-espinho. meiguinho, habitué para dentro, resingão para fora. adensa a membrana. é romã. entre tu e fora. e entre os dentros. o tédio cria cascas. labirintos. para ir de um sítio ao mais próximo dar voltas e conviver com acasos. quiçá cansaços. desistências. atrai-se por vazios, os difíceis, os paradoxos de espírito. mas ri caro. não! rir só sarcasmo! e que não o adocem com rostos esticados, bochechas repuxadas, olhares apologéticos, sorrisos encantados até às orelhas penteadas de pacotilha. o tédio exige diferenciação. análises iniciadas. depois pontilhadas. depois nadas. Erupções  autorreflexivas e contorsões discursivas e desistência abrupta. passar pela sala de espelhos. olhar-se. narciso. fractal. eterno. vómito.

Mensagens populares deste blogue

Madressilva

O Belo

Fragmentos