Por estes dias

Por estes dias, meu amor - perdoa que te designe assim - há uma fímbria de luz no perfil da tua ausência. surpreendo-me com a sua concretude. é recorrente. difícil. não me protejo. insisto e volto. e nem é pelo amor ao perigo. é mesmo para tragar em pequenos goles. goles. como de água do mar. sufocam-me. e no entanto. eu sei como tu que o amor não tem qualquer importância. e tem. tal como tu dirias: "assim". na tua finita sabedoria sabias que a ausência é mais presente que a presença. quem não sabe?! que a dor é mais potente que o hábito. a cicatriz fica. a náusea amolece. o júbilo é climax. só na dor constróis o sempre. mesmo no fogo frugal das estrelas. tão fácil e difícil vê-las. e que são? quem sabe? para estes dias tanto faz. tanto faz o real. inegável é a dor, a banalidade e o mal. a rotina é segurança. a disrupção, previsível. mas não cabe na tua vida o meu estilete. por estes dias a luz que me davas faz sombra no tapete do quarto. o quadrado que é quarto. a quinta dimensão ou essência? sei lá. eras tu. já não és. faz falta daqui. daí não. sei que te diverte a privação que ofereces. ponto. irei e virei até que tudo me doa. quero a dor como presente. quero a dor no lugar da fé. quero-a dentro como uma dor de dentes. quero-a barca estagnada em lagos frios. quero-a de sal a doer. goles do mar. afogar. só quase, mas quase. mentira meu amor. estou à beira-mar. só imagino. sabes como sou. como é fluída esta existência à beira-amor. este ecossistema dentro. o trocadilho dos afetos. nem queiras saber. não queres. demasiado complexo e intermitente para a persona acomodada que és. que és afinal mais que genial. genial que também és. meu amor. foi por esse lado flor que me intrinquei, me desdobrei em Sherazade. mas por estes dias sou maré tóxica. mal cheirosa. peixe podre. sargaço. arenque morto. gato gentio. grito lúbrico. sombrio. amor. assim é nestes dias. até outros virem.

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