A Dor e as Árvores

Regresso aqui por necessidade. Ainda bem que não vais ler. Partiste! 

A textura da língua - áspera -, recorda-me tempos de inação, de sem-rumo; do entorno que costuma acompanhar-me vindo dos confins do universo - sabe-se lá porquê?! Tão persistente! Melhor não insistir eu, volver transparente: há várias possibilidades: a máscara social; o estertor final... mais não me ocorrem, porque nem importa! 

Encontrei-te várias vezes ao longo da vida, mesmo quando apareceste com disfarces. Muitas mesmo. Repetiu-se. Repetimos: o princípio, o engodo e o fim. Independentemente dos meandros da historieta de príncipes ou quase isso. Já sei! Já estudei! São heresias de trovadores, paixões irrealizáveis, narcisismo encapotado, inconsciente coletivo, arquétipos... Mas porquê tanta insistência? Atormentem-se outros! Distribua-se a dor! Tão dor!

Desta vez fui Xerazade: desdobrei-me em imaginação. Eras mentira total, indiferença! Dei conta que me sugeriste o suicídio - nunca ninguém foi tão cruel! Nem o pater - o original, supostamente. Ou será que foi apenas mais um?! 

Aprender o quê? Curar o quê Dra. terapeuta?! 

Às árvores, tive que lhes contar! Olhei-as com um implante mental de não-pensar. Não pensar imposto: impostor, mas paliativo. A dor era para lá do possível! Foi preciso projetá-la nas árvores absorventes. Olhei-as com meiguice e tranquilidade, para que não se apercebessem do embate. Disse-lhes que já não eras: agora estávamos só eu e elas; cada uma delas. Nós e a dor suspensa, sem projeção de falas, de emoções folhas, nas ondulações dos ramos. Ficámos saradas eu e elas, as árvores. Agora falamos menos. Sorrimos um pouco, geralmente. Aguardamos sem esperar nada. Só que o tempo passe e lave, e leve, e nos permita ser qualquer coisa que ainda não projetámos. Porque em equilíbrio sobre a linha do abismo, outro tempo decorre: o tempo do absurdo, da banalidade e do mal, concatenados.


Mensagens populares deste blogue

Madressilva

O Belo

Fragmentos