Big Eyes - Comentário
A mensagem do filme Big Eyes de Tim Burton - sobre uma história real - não é apenas sobre uma mulher talentosa vítima de um homem sem escrúpulos, que abusando da relação de casal e dos preconceitos machistas da época, se faz passar por autor das obras de arte da sua mulher, com o respetivo assentimento chantageado!.. É esse "o dedo que aponta para a lua", mas a lua é outra! A lua é a nossa sociedade, somos nós, a nossa aceitação de que seja "normal", como dizia Arno Gruen, "a loucura". A lua é a nossa ânsia de viver numa ficção com heróis, previsíveis, com as suas jornadas e reconhecimento climático final. Naquele tempo, o artista "normal" era homem (ainda é, maioritariamente?! ), cosmopolita, reconhecido pela elite! Com o advento do consumismo acrescentou-se o marketing, os vícios dos media, a extroversão exigida, o contar de histórias, sem descurar a (bastante anterior) importância do desvio, da extravagância, do choque e do imprevisto, como o reconhecia Proust! Deixo-vos por completar este fluxo de ideias.
Se não conseguimos ver além da mensagem superficial, devemos ficar alerta: estaremos francamente comprometidos com o vilão da história.
Tim Burton deixa-nos a possibilidade de vermos mais fundo, de nos vermos a nós mesmos como colaboradores do contexto que alimenta o enredo. Público que somos dos media gulosos - agora das redes sociais produtoras de rumores. Por fim, as fantasias sobre o que é uma obra de arte ou um artista. O que é uma obra de arte? Como se estima o valor da obra de arte?
Este filme dá o mote para o debate sobre papel da mulher na arte, tema brilhantemente abordado no dia da mulher na RTP2. Num programa muito interessante, reflete-se sobre a extrema dificuldade das mulheres se afirmarem na arte - no passado recente e ainda hoje!