Quadro Obscuro

É agora a destruição massiva de mundos. onírico, o corpo rodopia no poço, em queda livre. tropeça por vezes em entulho ou algas tentaculares e repulsivas. se as garras seguem a seta do olhar até ao círculo de luz, logo o friso cede ao peso, à gravidade determinista. não há escapatória para a alma e o corpo descai, condenado. Sade. Sade. Mãe abortiva. totipotente, fatal! nenhum ganho lhe é equiparável em necessidade! arranhões e arrepelos. narinas em sangue vivo. o chicotear das duras estacas pelos flancos, os espinhos a rasgar a pele. perdidos no tempo, silvos lúgubres debalde. a roldana do karma sem fim!  memória de todos os infantes talhados para a morte, sacrificados em frente às mães, os seus guinchos dilacerantes...os bodes de expiação, o seu tenebroso sentimento de injustiça no espectro da matança irrevogável. a predação. o abandono do grupo de pertença, a mãe impotente. o pai que cede ao costume! o incenso, o cântico, o fogo sagrado, a hipocrisia partilhada! nos divãs contornados por esvoaçantes panos vastos e reveladores, na devassa, no ópio e na mente entorpecida, nos objetos predatórios, perfurantes ou castradores, tu, filho de Noé, executas o meu destino  atiçando-me os obedientes cães de caça. caio em sequências de tempos imemoriais de congeminação divina. que me esperes em vestes brancas, transfigurado, e me reveles que nada é dor. um céu forrado de veludo azul perfumado de água de rosas e ervas destiladas. lagos de cristal! eloquência de Cícero! cisnes negros afortunados. zunidos de vento apertado nas frestas dos pórticos incansáveis. o acolhimento de emergência, porque o universo está em declive agudo para o devir desmarginado, ininteligível no silêncio da linguagem morta, no término dos ciclos da natureza: o abismo quântico. adeus. só me despeço de ti, amor, e de ti mãe. O resto que me perdoe, não tenho mais atos futuros.

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