Perpétua.

Conheci-a vagamente na adolescência dela. Eu era mais nova uma meia dúzia de anos. Via-a cirandar pela rua, conversando aqui e acolá, mas o que me atraía a atenção era a beleza saudável da rapariga, sempre alegre. Muito loira, de olhos azuis e expressão cheia de luz, a Perpétua, que era boa na escola, aprendia para cabeleireiro. Quando passava, extrovertida e perfumada, era impossível não ficar de olhar preso à vibração que lhe contagiava cabelos e saias, soltando-os em ondas harmoniosas. Era a rapariga mais bonita que eu vira até então. 

O liceu e a minha vida em geral desencontraram-se dela: eu a preparar uma carreira escolar longa; ela a abreviá-la com a pressa de casar. E casou, cedo! Talvez antes dos vinte anos.

Ouvi dizer que estava triste e se dava mal com a sogra.

Ouvi dizer que se envenenara.

Antes tivesse fugido, arranjado um emprego longe dali, emigrado, tivesse pedido ajuda, se divorciasse. Perpétua! Perpétua! Nem o nome, nem a graça... Antes se chamasse Dominga ou Anacleta, e fosse feia de fazer chorar a calçada! E dona da sua vida! 

Poderia ser fujona! Poderia ser da vida! Poderia não querer saber de quem chispasse a sua imagem.

A beleza mal administrada pode ser um perigo!

Os Homens põem os mais belos pássaros em gaiolas e ainda se gabam do seu cantar.

A Perpétua, que a vida potenciara para altos voos, acabara prisioneira e recusara dar seu encanto ao verdugo. Antes o canto do cisne! Requiem!


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