Cuidado se Fores aos Gambozinos
Cuidado porque o Ti Manel Amaro...
Bom, vou explicar. O Ti Manel Amaro tinha umas hortas ao pé do rio Arnóia, em terrenos bem férteis, mas, infelizmente para ele, à beira da estrada, que finalizava mesmo ali, excepto para quem atravessasse o rio - o que era fácil de acontecer no verão, com as águas escassas dessa altura. O Ti Manel Amaro, tinha também umas vinhas, onde mimava um belo pessegueiro tardio. Coitado! Não só a passarada, como também o ancestral Homo Recolector, gostava de recolher ao bolso uns belos pesseguinhos para depois da janta, particularmente ao fim da tarde, já no pacífico lusco-fusco, que torna a visão mais dúbia..."Parece que tá ali além uma coisa a formigar, ó Tónho!". "Tens razão Mélha, há ali um lombrigar." "Deixa homem, pode ser alguém que se sentiu apertado. Entra cá pra dentro pra me ajudares a acender o lume pró jantar!..."
E assim, o Ti Manel Amaro, achou que tinha de pôr cobro à evaporação dos seus pesseguinhos!
Vai daí, resolveu fazer uma espera, em noite morna, de caçadeira em punho. Ia meditando na vida e passando pelas brasas com lassidão e tédio, pois quem espera desespera! Aproveitava para ir apreciando o frescor do marulhar dos choupeiros, os últimos cantos das aves a trocarem de vez com os assobios e silvos dos utentes da noite selvagem...quando ouviu: "Olha ali um...olha ali outro..." . Eram as vozes de um homem e de um garoto.
O Manel Amaro estava a realizar o porquê de estar ali à seca! Com passadas de caçador por emboscada, aproximou-se da presa e gritou apontando a caçadeira: meus malandros, agora é que vos apanhei!
"Oh Manel! Tás enganado! Nã vês que sou eu mais o meu neto?!", dizia o meu avô a gaguejar. O meu irmão pensou que fazia parte da brincadeira e continuou divertido. É que o avô, que o tinha vindo buscar para passar a noite no casal para dormir com ele e com a avó Gracinda, resolvera apanhar vaga-lumes com o boné, que depois acondicionava num saco, para cumprir a tradição de economia infantil que constava em trocar por magia um "caga-lume" por uma moeda. Punha-se o "caga-lume" por baixo de um copo à noite e de manhã aparecia uma moeda no copo. Pelos vistos, naquela noite, estavam a pensar criar bastante riqueza, por acumulação capitalista!
Durante algum tempo acreditei em gambozinos, mas só de me lembrar deste episódio, nunca ousei a triste figura de caçá-los!
Ah, e o meu irmão manda esclarecer que o animal era libertado ...e ainda, que o fósforo que lhe dá a sedutora luz, é altamente tóxico!