De Pedinte

No ano em que fiquei na aldeia com a avó para poder entrar mais cedo na escola, houve um dia em que ela me juntou com outra miúda da minha idade, penso que exatamente do mesmo dia e ano, que talvez se chamasse Ludovina, e mandou-me ao pão a uma casa de longa escadaria externa, lá para os lados da casa da Mila, que nessa altura eu não conhecia, mas fixei o lugar! Eu fiquei desconfiada e então ela disse que me davam doces e outras coisas. Eu não estava a ceder porque não era nenhuma pedinte! E ir ao pão para trazer doces, só parecia que estavam a tirar partido da minha ingenuidade! Não estava para lhe dar essa satisfação! A que propósito iria pedir pão ou doces a alguém que eu nunca vira?! A outra miúda encorajou- me, pois já tinha experiência e qual não foi o meu espanto, que depois de ela dizer uma frase, se abriu a porta com uma senhora cheia de sorrisos e nos encheu os sacos de pano de coisas como tremoços, pevides, bolos de noiva, figos, fatias de maçã secas e sei lá mais o quê. 

A minha avó estava a rir-se a distância, gozando comigo, pois claro. Ela sempre gostou de me pregar partidas! E pronto, foi a primeira e última vez que fui ao Pão-por-Deus!

Eu era tímida! Só ao engano me tinham levado!

Mas na altura, bem que me diverti! Ainda me lembro de ir com a outra, muito constrangida, a par e passo, como em procissão, a subir a escadaria!...

Mensagens populares deste blogue

Madressilva

O Belo

Fragmentos