Madrinha
A minha madrinha tinha só mais 14 anos do que eu, mas sempre desempenhou o seu papel na perfeição.
A primeira imagem que tenho dela foi na altura da preparação do seu casamento. O convite a cada conviva era pessoal, feito diretamente, o que eu acompanhei algumas vezes. Lembro-me da alegria dela e dele nessas ocasiões. Ele era um rapaz que eu considerava ser alemão. Apesar de originário de Rio Maior, já vivia há uma década na Alemanha e a mim, parecia-me que tinha absorvido os modos estrangeiros, o que incluía uma rara delicadeza e simpatia para com todos, sendo que a que mais me agradava era a que ele tinha para comigo e para com a madrinha - porque eu estava a tentar perceber se ele era bom para ela. E sim, era daqueles como eu nunca vira antes, que pegava ao colo, assim do nada, oferecia flores que colhia pelos campos, dava beijinhos. Estava aprovado!
Depois lembro-me do casamento deles. Fomos de Lisboa. O nosso Vauxall avariou pelo caminho. Mas lá se recompôs. Eu saí do carro e mirei mais uma vez as borlas giras que me pendiam das meias brancas e vermelhas, o vestido de veludo bordeaux. O mano estava bonito, muito penteadinho! A mãe estava vaidosa! Do pai não me lembro, mas deveria estar nervoso a dar conserto ao carro.
No final, correu tudo bem e fomos encontrar a madrinha nos últimos preparativos da boda, que eram no armazém do pai da Lina. A madrinha vestia um casaco leve azul bebé e sorria com doçura. Recebia-nos com aqueles seus eternos modos simpáticos, com falas de sorrisos, ligeiramente enviesados pela ortodontia um pouco imperfeita, que lhe dá uma certa graça - ainda hoje!
Depois foi a cerimónia na Igreja de que não me lembro e a foto da praxe nas escadas - foto que revi ao longo da minha vida infante, pois fazia parte das que estavam expostas.
A madrinha foi logo para a Alemanha de onde enviava postais encantadores com hologramas e relevo, como eu nunca vira, que líamos em família e repetíamos. Em particular, eu reparava no nome das terras Münster, Frankfurt. Os postais ficavam em exibição como fotos, durante algum tempo, sobre os móveis. Não me admira que a minha mãe os tenha guardado e estejam ainda em alguma gaveta esconsa.
Quando a madrinha vinha de férias trazia prendas para todos, mas as especiais eram para mim. Fazia questão de me pôr a escolher primeiro. E não vinham uma nem duas, mas um festival de presentes que me enchiam de felicidade. As bonecas mais bonitas, foi ela quem mas deu! Os vestidos e tecidos mais catitas, também!
A madrinha foi a pessoa que me fez sentir especial, ao longo da vida, sobretudo na infância e adolescência!
Ela foi uma verdadeira proteção para tempos difíceis na minha vida e isso não tem preço!
Obrigada, madrinha!
