O Benfica.
O Benfica era um cão rafeiro, simpático rodinhas baixas, de pêlo curto castanho dourado. Um cão normal, nas suas lides de cão normal, em Lisboa!
Um dia, encontraram o Benfica numa aldeia, a 100km de distância. Fechado numa adega, aguardava uns dias para ser trazido de volta para os donos lisboetas.
O cão fora abandonado pelo dono, mas miraculosamente seguira pelo faro o carro de um vizinho, durante uns 50 km, que, impressionado, o trouxe ao dono, rendido à sua fidelidade, coragem e extrema capacidade. Era um herói! Pensava o homem, com estes argumentos amolecer coração do dono.
Qual quê, o Benfica levou um tiro e foi substituído por um animal de grande porte, felpudo.
O Benfica era de uns vizinhos. Nunca pude aceitar esta situação, nem olhar a direito para os carrascos. E esta era uma realidade possível. Isto era a Humanidade.
Os donos disfarçavam bem: simpáticos, trabalhadores, negociantes locais, tinham sempre os animais bem alimentados e modos afáveis com eles.
Penso que são estas situações que nos levam mais tarde a precisar de terapia, não por nós, mas pelos outros, os normais!