As Sevilhanas

A sala composta. sustem-se a respiração. mulheres em trupe, sem idades. homens procuram lugar - olhares sondam, conspirativos -, excluídos, amontoam-se, com seus bigodes rijos. elas, cinturas cingidas e xailes e argolas e outros pêndulos, acentuam-lhes um não! e mal esperam sussurrando, para gritar: Olé!

Faz-se breu e prende-se o olhar numa cascata de panos, no palco, escolhidos pelo foco de luz vermelha, cúmplice da primeira dançarina, que daí surge com lentidão majestosa! arrasta os pés num desafio animal, e logo se desembola em sapateado, como se estivesse em achaque de adrenalina, que de imediato acalma - deixa o aviso do perigo! contenção é pior que desafogo! e mais leve agora, brota o leque e castanholas, roda a saia e logo arrepia o movimento, exigindo grácil e atrevida, controlo de sangue sobre a vítima. e raspa o pé no soalho, como o boi em ameaça! Mostra-se máscula e logo se contradiz em torções femininas, que os pés ficam para trás e já o corpo se revolve para nós, brusco, após um olhar matador em chispas, de quem nos culpa e jura vingança! Olé! gritam elas da plateia, até as mais finas. Olé! a dança é nossa! e depois dá-nos as costas, a dançarina, já satisfeita de abusar da nossa cobardia e êxtase, e com reconhecida vitória sai do palco com um aplauso explosivo: Olé! e vêm mais exibir-se, sós ou emparelhados, mas sempre o jogo ardiloso, entre a raiva animal e a sensualidade ardente, rente à comoção da morte na tourada. e é em desnorte, que muitos bigodes se retorcem com mãos ansiosas de apagar fogos em corpos desnudos!

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