A Escritora Genial
As palavras existem naquela sequência por ela inventada que é única e ela sabe-o!
As sensações que me alavancam essas palavras, fujo de algumas, por me desventrarem e verterem o desespero em sangrar lento e eu não posso dar-lhes esse poder!
Protejo-me delas, tão potentes nas minhas entranhas. Não posso deixá-las entrar e remexer o corpo, trocar os químicos, mudar o sítio dos órgãos, desorganizar o bem-estar dormente que me proteje do real cru!
A escritora que me perdoe! Capitulo de vergonha!
Mas ela, facínora, corta, esfrangalha, lima onde dói! Ai! Enrola as palavras numa confusão que a mente não tem tempo de alisar e vai um sentido já a fluir e outro ainda empatado lá atrás - espera lá!- e invade-me de mais fragmentos de sensações, tanto acumular de pequenas partes sem todo à vista! Uma aflição! Ela não acaba o trabalho, abandona-me num estado incompleto!
Cada palavra é um borrão de cor entregue à influência de outras cores em enxurrada e eu para dar algum entendimento jorro pinceladas urgentes num quadro abstrato imaginário de sensações bebés ou comatosas, dores mal paridas, mal findas!
Eu fujo! Eu fujo depois de me ter lambuzado em tanta beleza! Triste! Beleza crua! Com um medo de morrer! E ela, sádica, não me dará um braço de acudir, e mais, fico sem poder explicar a alguém o sentimento valdevino de a ler! Ela suga e apodera-se das minhas próprias palavras, que se intoxicam de âncoras emocionais que não domino - nem todas me pertencem: serão da escritora, das vidas que ela tocou, ou tocaram nela, das que imaginou o seu génio, sabe-se lá onde elas vivem?! Assim não posso, Leonora! Não posso limpar a mente pelo sonho!
De que vive a escritora genial?!
Eu sei que não está certo, e sou quem para julgar da carreira, do país para os artistas, com ou sem pandemia?! Como se tivessem que se dobrar à escolha das elites, à fumaça da popularidade, ao marketing da manipulação do papel de embrulho! Ai querida escritora, és genial, e do génio raramente se come ou se fazem férias em Biarritz- nem sei porque digo isto!- do génio, sangra-se perseverantemente, para tempos futuros! Que injusto!