A Praia de antes e de agora.

A memória traz-lhe uma moleza moldada em peso na areia e carícias de mãos namoradeiras, mas não tem a certeza dessa verdade! Talvez fossem alguns segundos, ou só uma vez! E na infância, que na praia se prolongou até aos quarentas, o jogo, o grupo, a brincadeira, a boa disposição, os lanches, a organização da agenda da sombra e do sol, os rituais: do chapéu, da água de beber, da ida ao mar...risos, risos! Mas também não está absolutamente certa dessa energia! Agora a praia é outra, rápida, solitária, o mais possível silenciosa, sem ardis ou ardores de pele, sem namoros, sem tensões e negociações, com o fim no bar, um petisco a gosto, a bebida escolhida, um gelado até - às vezes -, vulgar, mas a fazer ponte com o passado, onde nada mais joga a favor da memória! 

Há duas praias por certo, a do passado e a de agora. Inconfundíveis! O mar é mais calmo, menos aventuroso, a areia tem uma temperatura a jeito, sem escaldar, sem adornar o langor nem a líbido. Tudo calculado, agora! Embora, dantes, tudo fosse também ritualizado, criava-se um sentimento de grande exultação, alegria, paixão - forças vivas! atiradas ao vento, displicentes! Por onde andam elas?! O cheiro, os sons, a temperatura, o sofrimento - às vezes -, tudo em superlativo! Agora são favas contadas, as idas à praia! Nem combinações, nem alterações, nem transportes de objetos pesados, nem preparações. Tudo é simples e vago, agora! A praia continua boa, mas mais para os outros, talvez para as crianças ou os mais velhos, que ainda parecem em puro gozo; ficamos, agora, afastados deles e de todos, o mais possível. Impassíveis! Serenos! Solitários! Autossuficientes! Mornos! 

Na praia, agora desendeusada, somos alheamento!

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