Da Profissão - ser nada!.

O rapaz fora-lhe apresentado como tendo "qualquer problema, parecia atrasado!". Viera da Guiné para o 12 ano, até que decidiram reposicioná-lo no 10 ano, e posteriormente num curso tecnológico, mas não evoluía na aprendizagem em nenhum dos lugares. Quando conversou com o rapaz não lhe detectou dificuldades no diálogo, mas também não adiantava grande coisa: falava de banalidades...entretanto chegou-lhe ao gabinete o irmão, de 14 anos, por problemas de comportamento, também vindo há pouco da Guiné e havia vários outros irmãos na escola. 

Quando se lhe propôs, ao mais velho, formação num Centro de Formação Profissional e se indicou a documentação necessária, o rapaz começou a chorar e a dizer que não podia ir porque não existia, não era ninguém, valia menos que um objeto! E quis sair, sem nada mais falar.

Mas pouco tempo depois, o mais novo avisava que estava de viagem marcada para ir viver para a Suécia com familiares e que tinha 17 anos. Face à evidente falsificação, a psicóloga tentou saber do irmão, se também tinha outra identidade, ao que o rapaz que crescera três anos repentinamente esclareceu que sim, ele também era outro, tinha andado na guerra e tinha a cabeça "lixada".

Agora tudo fazia sentido, os jovens eram traficados, beneficiavam dos apoios sociais escolares, mas não havia qualquer interesse em que avançassem na escolaridade.

A psicóloga nunca esquecerá a expressão matreira do mais novo e a aflição do que se considerava igual a "nada!" e que sofria provavelmente de stress pós-traumático de guerra. 

A direção da escola foi avisada; os dois, desapareceram da escola entretanto.

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