O Jantar Romântico

Ela foi apanhada de surpresa. Era ainda um primeiro encontro. Tinham combinado ir jantar. Poucas horas antes ele informa que tem o peixe a descongelar. Ela não quis apresentar-se como frágil e concedeu na alteração, pelo menos da sua intenção! Afinal era mulher feita!

Quando chegou foi recebida com simpatia! Após uns sorrisos francos de satisfação entre ambos e a apresentação dos cantos da casa, foi instalada na sala por entre fragâncias agradáveis de uma vela. A luz indireta e ténue, que ela escolheu das alternativas que lhe propôs, combinava bem com o espaço cuidado e minimalista, com alguns toques de personalização numas fotos dos filhos e memórias de viagens, alguns detalhes da sua coleção que habita outro local da casa...e ele fora cozinhar deixando-a num banho musical de extremo bom gosto, que pensando bem, ele explorara na conversa anterior...

Quando a refeição ficou pronta, com aromas, qualidade e detalhes interessantes, ele orientou-a para a mesa, puxou-lhe a cadeira a sorrir com o seu olhar bonito e sentou-se suavemente apresentando-lhe a comida com algum detalhe e explicando a sua intenção de lhe agradar. Usou um serviço que guardava na sala e serviu o vinho branco em flutes de cristal, com um bom design, de que ela gostava! Em particular apreciou as flores sobre a mesa, dispostas com uma técnica japonesa, os ramos orientando-se para o céu, a terra e o Homem, que aprendera na sua ida àquela paragem oriental. A música fora mudada, o volume diminuído, mas continuava a fazer parte de um ambiente requintado, suave, de matriz complexa, inteligente, mas de aparência simples, minimal. A refeição decorreu calma e prolongadamente por entre a composição que ele fazia de mãos, sorrisos, olhares e uma conversa, que harmoniosos, compunham um ritual de sedução que ela apreciou por não ser banal, antes de subtil dedicação e investimento na sua pessoa! Ele queria e conseguia conquistá-la!

Mas, e se em vez disso, e apesar de ficar a cozinhar com afinco, a deixasse a ver televisão, que ela detesta, e omitisse a música, os aromas, a vela; pusesse os pratos e talheres usados na cozinha, servisse o vinho nos copos de água mais à mão, a toalha lavável, os guardanapos de reles papel, atirados para perto do prato; na mesa ainda uma zona a servir de bancada ao hobby dele, com colas e grampos...; comesse num minuto, censurasse a cadeira, que lhe pareceu torta, o não comer os talos, falasse do preço da refeição, despachasse o seu prato num minuto e começasse a levantar a mesa antes de qualquer ritual de transição, antes de...
Agora no silêncio, ouve-se o bater dos talheres no prato, a ser preparado para a máquina...tudo tão rápido!
E ela ficou a pensar na diferença entre as duas situações!

Mensagens populares deste blogue

Madressilva

O Belo

Fragmentos