A Borboleta.

As aulas eram no enorme anfiteatro de Letras, com professores conhecidos pelo nome e exame final - nada mais os ligava aos alunos. 

A diversão era quando ela passava, com a saia curta, florida e rodada, a esvoaçar em cada degrau da escada, na cadência certa e musical do I'm feeling good, da Nina Simone - ouvia-se: "olha lá vai ela, a borboleta". Pouco se dava a conhecer, de resto discreta e tão principiante e insegura quanto nós; participava moderadamente nos trabalhos de grupo, sem a afetação adivinhada pelo andar de diva, sobretudo naqueles momentos de anfiteatro. Era uma atriz versátil.

Mais tarde soube que fora alvo de sedução - é verdade, o feitiço virou-se - de Dom Juan do curso (um dos) e também soube da casa que o marido lhe comprara e que ela, ao ir embora, alugara ao tal, dito amante.  Por uma tuta e meia, deixou-o habitar o belo apartamento em zona central de Lisboa, quando desfeita, mas decidida pelo marido, partiu para o Porto, sua terra. Deixou os galos - marido e amante - a degladiarem-se pela posse da casa, senhorio contra inquilino, até que o ex-amante ganhou em brilhante negócio, usando a esperteza e a lei esquerdista protetora do "mais fraco"! Ai como se gabou o homem, a felicidade da derrota do rival!

Ela, simplesmente, desapareceu do curso! Terá desistido, pedido transferência?! 

Neste caso, talvez todos tenham ganho e perdido! O amante, só mais tarde, provavelmente, fez (dúbias) contrições, muito new age, com o fulgor predatório diminuído! Dedicou-se ao estudo e terapia da personalidade narcísica - muito acertadamente, julgamos!


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