O Grego

Grego, chamam-lhe assim os compinchas, é um cinquentão suburbano. Desculpem a rudeza, mas ele tem orgulho em ser tudo o que um suburbano é. E na verdade, primeiro foi um nómada a acompanhar o pai militar. Fez muita camaradagem pelo país fora, fácil que lhe é comunicar. Fala de tudo, pensa ele, mas não lê um livro, e além disso consegue realizar todos os seus objetivos. Na capital, onde se fixou, adquiriu uma vivenda em bairro periférico, económica mesmo, com a ajuda do banco para o qual trabalhava. Entusiasmado, comprou mais umas casinhas modestas, mas bem localizadas, sempre com as regalias dos bancários, e as filhas sabem que não precisam muito de estudar, só o básico. É que o Gregório meteu-se num negócio de táxis com a mulher, e quando pensou ver-se livre, ocorreu-lhe expandir em fama algumas manias dela, a ponto de a enlouquecer de verdade, ou quase, e então o Gregório tentou interná-la num hospital psiquiátrico, à velha moda do passado. Mas o sogro não anuiu e o Gregório esperou uns anos para se divorciar, até decidirem pôr em nome das miúdas o mote da desavença. O Gregório não fez mais nada, seduziu as garotas para ficarem do seu lado, com a mesma argumentação: a saúde mental da mãe. E, no entanto, ela mantém-se no trabalho, onde é reconhecida como excelente profissional, tem a sua vida autónoma, embora se sinta fintada, pois as filhas preferem estar mais tempo com o pai, que as mima. À custa disso, a mais nova tem uma vida que o preocupa, melhor, que sabe ignorar; para além de ter apanhado o jeitinho de mentir do pai, que se considera bom tipo, amigalhaço, e muito sincero. Sinceramente é o seu termo preferido.

Medita o Grego na sua vida para se orgulhar, pois já casado e com a primeira filha, largava a mulher em casa e ia divertir-se com os amigos nos fins-de-semana, motocando, e deixava um rastro de destruição por onde passava: roubava, sujava, partia, locais como estações de serviço, cafés e restaurantes...e um dia decidiu parar e ter juízo - diz o Grego autocomplacente e com excesso de confiança, ao tentar vigarizar o ouvinte, como bom psicopata que provavelmente é! E, do mesmo modo que um padrinho da máfia, é uma jóia doméstica para o netinho, para os cãezinhos, para as filhas, só mimimi!

Conhecem o Grego, o senhor bem falante que vos pode conduzir o táxi?! Se bem disposto, contará maravilhas de sua pessoa e um sem-fim de banalidades do quotidiano, sentindo-se muito digno e esperto! Esperto será, com a sua empresa a bulir a todo o gás, engana aqui, ali, agora espera... É o maior, o Grego! Ah, a propósito, não é assim que se chama, mas que importa?!

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