Romero

Romero era o filho mais novo, já fora de época, do casal Pôncios. Os olhos negros húmidos temperavam o sorriso inocente com um dentinho em falta no retrato mais famoso do garoto. Era uma ternura! A foto era um sucesso e fazia furor nas casa das tias avós, e de outras senhoras, já bem velhotas. O rapazito cresceu que não se deu por ela e sem grande rumor seguiu os passos de um primo ambicioso, que subira na vida fazendo amizades por interesse, e se punha um tom de voz de senhor doutor - ou seria de senhor engenheiro?- e depois tratou de fazer corresponder os diplomas à fama!
 
O docinho de rapaz fez-se homem. E lá pela vida que escolheu, foi avançando sem estrépito, até que o povo inteiro da terra se deu conta que o nome da esposa não cabia na linha de um caderno e que o aniversário dos filhos rateava as festas populares, coincidindo com as suas datas com oferendas, esplendor e ruído de festa maior que as maiores festas da terra. E até pareceria mal não ir! Assim, sob perplexidade do povo, um comportamento de cacique local foi-se instalando, nesta competição com todos. Mas foi no fatídico dia da minha morte, presente nas ditas festas, que todos se aperceberam do valor que dava a cada pessoa. Fui escondida, desapessoado o corpo - ainda o meu espectro se afeiçoava ao novo estado, contrafeito - já me olhavam aflitos os convivas que se vinham assegurar de que estava morta, que o ruído festivo dos comensais, e das crianças inocentes, fazia disso duvidar! A festa tinha que continuar houvesse morte ou guerra, porque a sua importância era superlativa! E para quem quis ver, viu, o que lhe aconteceria a si em idêntica situação. E assim evoluiu a doce criança até esta consequência de uma ambição desmesurada e cínica.
 
E o velho louco do lugar repetiu em verso: que se aprenda, nessa terra de empregados, a não imitar patrões pouco civilizados!

Por mim, já tanto se me faz!

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