Histórias da profissão - o anel do professor .

Entre os professores, havia uns bem jovens com entusiasmo contagiante - pelo menos esse sentimento reverberava em si mesmos e nós observávamos, sorrindo perplexos ou dobrando gargalhadas. As aulas do quarto ano eram já nos cubículos da Pinheiro Chagas. As salas com divisórias de perfil de alumínio e painéis castanhos, eram frágeis; as janelas abertas não conseguiam escoar a fumaça do tabaco, particularmente com o ar pesado do Inverno. A turma da noite era constituída por muitos trabalhadores estudantes. No segundo piso, na área de Orientação (A), recebíamos os professores das outras áreas e nesses dias tínhamos a cadeira de Psicoterapia e um professor muito jovem de cabelo aos cachos  a acariciar e a especular sobre o seu anel, que lhe dava feedback sobre qualquer variável não observável: seria stress?! E mudava de cor! Ele, muito entusiasmado, também nos bombardeava com resultados empíricos, acariciando o idolatrado anel! Uma graça, este professor do quarto andar da área C, penso que se chamava Telmo Baptista.

Os professores do quarto andar, andavam por regra a pendular entre Portugal e os Estados Unidos da América, sendo muito orgulhosos de tal epifania! Eram um pouco repetitivos com esse afã, repuxando-nos da influência europeia para um etnocentrismo glorificador das américas e do mundo anglófono em geral. Nesse tempo, muitos de nós vínhamos do Francês como disciplina estrangeira e patinávamos na língua, na cultura e no entusiasmo jovem dentro da Universidade, ainda, na generalidade, com cultura antiquada, surgente da Universidade Clássica de Letras.

O tempo, lá fora, chorava nas bicas, ameaçando enregelar-nos depois de sairmos da sala que nos estufava ao vapor da sobrelotação e do tabaco. Por entre o nevoeiro de fumaça, o professor Telmo vibrava de entusiasmo com a investigação norteamericana e o seu anel mágico. E o sono do cansaço fugia um pouco e, possivelmente, a colega Ilda acordava!

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