Histórias da profissão - o professor de antropologia.

As aulas de antropologia eram fascinantes: as tribos ameríndias, as das ilhas do Pacífico, as sociedades dos saguins, a etologia, os teóricos: Saussure, Margaret Mead, Radcliff-Brown, Konrad Lorenz etc. etc. E até o Paradigma Perdido, do Edgar Morin, lido com muita avidez. Foi uma formação e pêras! O professor era muito fluente, as aulas eram empolgantes e lá atrás, ao fundo da sala, na cave de Letras, havia, por vezes, uma ou outra senhora, que nós designávamos por "namorada".

Quando chegava a avaliação, se escrita, o professor reunia os 100 alunos no anfiteatro de Letras e instituía um sistema policial de vigilância, e penso que nem podíamos trazer a folha de resposta, uma folha grande, pautada, era ele que a dava - tudo com muita desconfiança de cópia!

As orais então eram um folclore, talvez deprimente, mas nós conseguimos retirar divertimento à coisa. Era mais ou menos assim: esperávamos pelo professor horas sem fim, dias até, já sentados pelo chão, no corredor da biblioteca de psicologia. O mais caricato ainda não disse: algumas de nós, raparigas, portanto, alinharam na experiência de testar o professor com decotes e minissaias. É que ele tinha a fama de dar nota segundo esses critérios, prejudicando os rapazes e quem vestisse calças, ou roupa sóbria. Fazíamos estimativas e depois verificávamos, pois os estudantes saiam do gabinete do professor com a nota atribuída. Havia quem não se conformasse e pedisse repetição do exame. Era logo ali. Saiam com a nota...igual!

Passámos uns dias entre o revoltado e o divertido. Mas o professor deu-se mal, pois o diretor tinha um gabinete perto do dele e assistiu a todo o folclore e espera pelo exame!

De qualquer modo, acabou por ser uma das disciplinas mais proveitosas do curso. E esta hem?!

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