Histórias da profissão - a professora Luz Cary.
Seria na prática de Psicologia Experimental?! Já não me recordo qual a cadeira que a professora Cary leccionava, mas parece que estou a vê-la a reunir connosco no corredor, numa grande mesa, perto da biblioteca, para prepararmos a investigação sobre consciência fonológica. Estávamos no primeiro ou segundo ano do curso e éramos chamados a participar em experiências muito interessantes. Não éramos escravos, envolviam-nos na compreensão e planeamento, na concepção de materiais, etc.
Eu e a Paula Loja fizemos desenhos para os cartões, arranjámos estrunfes, um xilofone; a Isabel Fonseca, era na altura Educadora pela Arte numa escola da Penha de França e tratou de toda a logística. Estudámos a teoria, investigação anterior, debatemos, organizámos a nossa ida, treinámos os protocolos. A aplicação às crianças foi deliciosa! O estrunfe representava um fonema que era adicionado ou subtraído, no início ou final da palavra. O grupo de controlo tinha atividades idênticas, mas com sons musicais. Depois trabalhámos os resultados, debatemos, etc. A experiência era a sério e iria juntar-se às investigações do que a professora chamava Grupo de Bruxelas. A professora Luz Cary não criava distância académica com os alunos. A conversa fluía e ela contagiava-nos com o seu entusiasmo. Também me lembro de ela opinar que nunca iria para a área "dos testes", aquela que eu viria a seguir na faculdade. Informal, contava-nos peripécias como a seguinte, que nunca esqueci: o pessoal de Bruxelas (investigadores portugueses e belgas) andava a testar se a técnica de espelhagem (imitar o comportamento do Outro) funcionava e faziam-no em bares, tendo ficado surpreendidos porque o sucesso era imenso: cativavam interlocutores. Na altura, ela não lhe deu nome. E eu só identifiquei a técnica ao estudar Programação Neurolinguística.
Claro que fiquei preparada para as questões que mais tarde se vieram a levantar, relativas ao diagnóstico e intervenção na dislexia! A escolha da área de formação teve alguns condicionantes: a fluência em inglês era obrigatória para a área C, Cognitiva-Comportamental. Tive que aprender primeiro a língua e uma década depois lá investi na formação pós-graduada correspondente.
Obrigada colegas e professora Luz. Assim aprende-se bem!