Houellebecq - Insubmissão

[Conversa imaginária com o personagem principal do livro Submissão, de Michel Houellebecq, após o final da história narrada]

Que miséria de produção científica senhor professor, hem?! Em cada início de ano cativava uma aluna! Em cada início de ano, a sua fama, levava a que algumas alunas se perfilassem para isso - demasiado fácil! E nas férias, elas assumiam com outros as coisas sérias. Porque o senhor professor era um homem vazio, obcecado por performance sexual, que não se sabia divertir, monocórdico e desinteressante - depois de dissecada a sua tese, que mais ficava?! Um corpo dormente, meio flácido, sem reação, sacando argolas de fumo deitado na cama, a usufruir do desnível de poder com a mão sobre a coxa jovem. E além disso, sem namoro, sem passeios ou bons restaurantes, ou lhes apresentar a família... 

Nem conhece o seu país! Enfronhado na Academia - muito me rio só de imaginar!... - com as duas pequenas muçulmanas no lar, vai esgotar a pica, a energia vital que tinha, reativa à dificuldade de se estimular. Com os bebés que lhe vão chamar de pai, aí uma dúzia, não vai poder parar de trabalhar arduamente na universidade subsidiada pelos sauditas e vai mesmo querer fazê-lo para evitar o burburinho lá de casa. Vai sonhar fugir e chorar na casa de banho, desculpar-se com a necessidade de passar muito tempo no gabinete da faculdade, e por fim, encomendar algumas mulheres de lazer para se divertir e verificar como lhe é cada vez mais penoso o prazer que ambiciona. O desnível entre o que é e o que foi! Ah! Muito me rio, sádica, de imaginá-lo a socorrer-se de múltiplas tecnologias e químicos, suplicando a Allah - será que o faz, que se converteu realmente?!- uma amostra, apenas uma vez por mês, da sua pior proeza. Vai sugerir ao primo da sua ex-namorada judia, ainda que casada e mãe em Israel, que a convença a visitá-lo em Espanha, durante o congresso muçulmano universitário, e lhe conceda uma hora, para afogar as saudades moles, as moles de saudades da outra vida que tinham, a mola que ela lhe erguia!

Tanto desprezo, tanta efabulação machista, culpando as mulheres pelos seus fracassos, exigindo-se performances produtivas - tanto disparate que orquestrou na sua via, arrogante, e agora...com duas moçoilas disponíveis como os sofás da sala, e nada! Nada mais sai do seu corpo e da sua excrescência mais egóica, nem da sua alma calcinada, nada! Não sai mais nada! Secou! Bem feita! E, mentira, não tem a casa cheia de herdeiros, nem um consegue! Se vivesse mais tranquilo a vida plena... Que tem contra o romantismo? Um amor, um percurso turístico, uma forma de desfrute partilhado numa caminhada pelo jardim, um passeio na margem do Sena de mão dada?! Que aborrecimento?! Ora aí tem: desfrute agora da sua ideologia materialista, da sociabilidade interesseira e fútil, profissional e misógina! Continua a remoer contra as mulheres da sua idade?! A enchê-las de defeitos, a desprezá-las e ainda a ridicularizar as suas relações compensatórias com homens mais novos, temporárias?! E as suas foram o quê?! exceptuando aquela santa judia?! Chore por ela agora, josezito chore! Pois, mas as suas colegas universitárias são hoje impedidas de trabalhar e mal saem à rua! Um dia destes experimente telefonar a uma delas. Como deve saber, divorciei-me por me recusar submeter ao Islão. Ainda faço daqueles pastelinhos!...

Mensagens populares deste blogue

Madressilva

O Belo

Fragmentos