JAREQUABÁ dois

Minha frorzinha, meu chururu, minha avezinha, meu bilibim....assobiava eu, já recomposto, caminhava pelas ruas de Jarequabá, com chapéu panamá de palha que tomara emprestado de titio, para me mostrar, com calça vincada às riscas e camisa alva. Via as floreiras de catos e suculentas, via o céu brilhante de veludo celeste, via os moleques jogando a pelota e eu ainda chutei nela para meter conversa e mostrar meu lado descontraído para as moças de vestido de cintura descaída e rosa branca no cabelo, que saiam da missa e me comentavam de soslaio. Minha frorzinha, murmurava eu com a alegria do regresso, ai saudade! Partira ainda pequenito e já ninguém me era familiar...teria de começar tudo de novo! 

Parei no café Jasmim, ai frorzinha, murmurei cantarolando, sentei na esplanada, coberta com trepadeira, ao frescor dos limoeiros, e pedi Garçom, me sirva uma limonada desses belos limões e o melhor pastel da casa!  E ai frorzinha, borbulhei no meu cubano, que titio me adiantara, para melhor socializar em boa posição, com os generais e políticos locais e ainda aceder a conversa simples e digna com mocinhas casadoiras do menu da sociedade. E arranquei minha primeira aspirada, e soprei com arte, minha primeira soprada! Ai frozinha ai! Minha vida está prometendo, minha alegria se expande até pra lá das montanhas, do esplendor dos horizontes e dos sonhos mais galantes, como nunca imaginei, não obstante Mimia Júlia costumar me garantir um futuro brilhante, mas eu não via não como de minha vida simples ia sair homem prendado pela sorte! O que eu conhecia era a gala do berlinde, o escorregar do carro de esferas, as corridas na lagoa de águas ferrosas, com meus amigos, e eu ganhava! E era feliz! Não obstante, tinha momentos de ficar vendo o negro da lagoa, quando o céu estava zangado com ela e bradava impropérios e eu restava molhado até ao osso, com uma nostalgia! As lágrimas corriam disfarçadas pela chuva, a moleza que me dava, a saudade, o vazio! Enxugava na pele a casaca larga, as sapatas grosseiras e até a bola de trapos, e aparecia bem tarde em minha casa, já jantado na dona Rosinha, uma sopa de carne para facilitar seu orçamento, Mimia!

E dizer que dei voltas ao mundinho pequeno que era Guacina e depois alarguei o raio, quando Mimia partiu desse mundo, e dona Rosário ficou sem o trabalho de lavar roupa de mineiro e eu me achei a mais e me enfiei em ônibus viajando por muitas terras de jornada em jornada e me enamorei de garotas fáceis, até ficarem difíceis para os meus orçamentos minguados e eu voltava a partir. Mas sempre voltei, como um círculo, à casa de dona Rosário, minha morada fixa, e foi lá que encontrei esse contacto por via postal, do tio de Jarequabá, minha terra natal.

Apesar de ser feliz, aí frorzinha aí, sempre tive momentos de enigmática tristeza, em particular em dias de tormenta, ou chuva persistente, que não sei explicar!


(...)

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