Jarequabá
Regresso a Jarequabá, venho só com a maleta puída, três mudas de roupa, uma gravata, um par de sapatilhas-luva e uns chinelos de sola de borracha alta. O ônibus sacudiu meu corpo desapiedadamente, todo eu pareço um chocalho, mas até foi bom, confundiu os sentimentos que me confundiam a mim, acho mesmo que quebrou aquele que me doía: um espinho cravado do peito à garganta. A viagem durou dois dias inteirinhos. Falei com velhinhas desdentadas a guardar restos de saliva em panos encardidos -, de lavar, suponho, em água ferrosa, das minas. Ouvi de itinerário, e acidente, e medicina e até de fura-vida das coisas do espírito - tá bem, tá bem, senhora, e o tio Tridentino? - quê?! Franziam elas o rosto, confusas. - quê nada dona, deixe estar, agora vou dormir, se cair no seu ombro, me desculpe, é só me acordar. E elas mudavam de lugar, assim que começava a roncar e a rir para dentro. Safadinho, dizia Mimia Júlia, outrora, que agora jaz telha, morta morrida.
A minha exaustão foi temperada em Cunioca, na penúltima paragem, com um chopinho e um saudoso biçate típico da região. Enfim, chegado ao pôr-do-sol a Jarequabá, minha terra, arrasto a maleta nas rodas da geringonça, e assobio a melodia do namoro.
deixe eu saber rentinho à noite
porque, nos meus afazeres
se disser muito antes
pode ser que eu esqueça
por outros comprometeres
Froribela,
meu amor é todo seu
se disser que me quer ao pôr-do-sol...
Tirolirolariló.
A maleta vai aos saltos e já a geringonça carrega uns fardos de palhas arrancadas à berma e eu paro no bar de palhota do ...ah não! dizem que já se finou o Sor Grubilio, agora é do Sor Jesualdo. Seja, caro senhor, salte para aqui um biçate típico da região. Não tem?! Vai buscar à sinhazinha?! Deixe, não se incomode, só um chopinho, que estou com pressa. E tirolirolariló e estou na estrada de novo a caminho do familiar distante com quem me correspondi e me convidou a regressar. Edificar, melhor, voltar a edificar um império comercial de família, de soja ou de minério, eis a proposta do meu inquieto e empreendedor relativo.
Fui recebido pelo criado Frimino, que o senhor estava de viagem, logo voltaria. Jantei sopa e carne de boi Marrero cozida, na sala das visitas e de cabeça oca de cansaço: - Me desculpem - ensaiei com os criados como se fossem os senhores, e recolhi ao aposento de museu que meu tio indicara para bem, vejo eu, muito bem, me receber. Este tio tinha mesmo grana! Precisava pensar na minha vida e nas novas oportunidades. Ai Froribela, ai Tinitaca, aguardem por mim, rico, perfumado a passear o último modelo de bólide de Sampa! Ou americano! Americano é que vai ser! E afundei-me em sonhos e pesadelos que duraram uma eternidade. Fui de Nova Iorque à reserva Gyaraou. Nos dias seguintes, meu cansaço não descia e fiquei de quarentena e canja de galo, abençoado por mãe de santo ou o que era. Não quis saber! Precisava ter meu tempo para pensar, sem socializar, para mais com criados velhos. E visitas de sociedade, também não estavam, para já, nos meus planos. Precisava me situar primeiro. Antes mesmo de primeiro, era lembrar do bom português, que isto de falar mal, não era mais pra mim! E Mimia Júlia bem me ensinou, mas estraguei a formosura de bem linguarejar com o meu corrupio por aí fora, moleque a molecar na estrada, no ônibus e em trabalhos de ocasião.
Mas sei falar bom português e Mimia lia para mim livros de Portugal. Vou lembrar de falar com nível nos meus encontros com sinhás de bundinha pequena ou roliça. Mil perdões! Vou-me comportar, ocupar um lugar digno na sociedade e talvez até, casar!
Ai Froribela, ai Tinitaca...que será de minha vida? Ai, frorzinha, ai!
Tirolirolariló...
A minha exaustão foi temperada em Cunioca, na penúltima paragem, com um chopinho e um saudoso biçate típico da região. Enfim, chegado ao pôr-do-sol a Jarequabá, minha terra, arrasto a maleta nas rodas da geringonça, e assobio a melodia do namoro.
Se você se encantar por mim Froribela
deixe eu saber rentinho à noite
Bela e Fror
porque, nos meus afazeres
se disser muito antes
pode ser que eu esqueça
por outros comprometeres
Froribela,
Bela e Fror
meu amor é todo seu
se disser que me quer ao pôr-do-sol...
Tirolirolariló.
A estradinha é poeirenta e de erva seca nas margens; o cheiro a bilimbi me deixa no limbo da comoção. Sede de seus beijinhos, Tinitaca, mulher índia Gyaraou, que roubou meu coração; se encontrar com você um dia, eu vou ficar!
A maleta vai aos saltos e já a geringonça carrega uns fardos de palhas arrancadas à berma e eu paro no bar de palhota do ...ah não! dizem que já se finou o Sor Grubilio, agora é do Sor Jesualdo. Seja, caro senhor, salte para aqui um biçate típico da região. Não tem?! Vai buscar à sinhazinha?! Deixe, não se incomode, só um chopinho, que estou com pressa. E tirolirolariló e estou na estrada de novo a caminho do familiar distante com quem me correspondi e me convidou a regressar. Edificar, melhor, voltar a edificar um império comercial de família, de soja ou de minério, eis a proposta do meu inquieto e empreendedor relativo.
Chego ao vilarejo que é Jarequabá central, pergunto pelo danado e cá estou eu, junto ao seu quintal cheio de vedação alta de quem receia ladroagem! Suspeitei que, ou era enfatuação, ou o tio era grã-fino na região. Eu, suado, puído, escalavrado, tive que compensar com meu porte aristocrático, queixo erguido, esterliquei-me e até cresci um centímetro ou dois. Atrás das moitas da beira da estrada, pus ao pescoço a gravata reservada e troquei chinelo de borracha por sapato-luva, aspergi o frasco de cheirinho de alfazema pela camisa e passei os dedos com saliva e brilhantina pelos farripos do cabelo no alto da cabeça, que me começava a doer.
Fui recebido pelo criado Frimino, que o senhor estava de viagem, logo voltaria. Jantei sopa e carne de boi Marrero cozida, na sala das visitas e de cabeça oca de cansaço: - Me desculpem - ensaiei com os criados como se fossem os senhores, e recolhi ao aposento de museu que meu tio indicara para bem, vejo eu, muito bem, me receber. Este tio tinha mesmo grana! Precisava pensar na minha vida e nas novas oportunidades. Ai Froribela, ai Tinitaca, aguardem por mim, rico, perfumado a passear o último modelo de bólide de Sampa! Ou americano! Americano é que vai ser! E afundei-me em sonhos e pesadelos que duraram uma eternidade. Fui de Nova Iorque à reserva Gyaraou. Nos dias seguintes, meu cansaço não descia e fiquei de quarentena e canja de galo, abençoado por mãe de santo ou o que era. Não quis saber! Precisava ter meu tempo para pensar, sem socializar, para mais com criados velhos. E visitas de sociedade, também não estavam, para já, nos meus planos. Precisava me situar primeiro. Antes mesmo de primeiro, era lembrar do bom português, que isto de falar mal, não era mais pra mim! E Mimia Júlia bem me ensinou, mas estraguei a formosura de bem linguarejar com o meu corrupio por aí fora, moleque a molecar na estrada, no ônibus e em trabalhos de ocasião.
Mas sei falar bom português e Mimia lia para mim livros de Portugal. Vou lembrar de falar com nível nos meus encontros com sinhás de bundinha pequena ou roliça. Mil perdões! Vou-me comportar, ocupar um lugar digno na sociedade e talvez até, casar!
Ai Froribela, ai Tinitaca...que será de minha vida? Ai, frorzinha, ai!
Tirolirolariló...