A Senhora do Ministério

O grupo era já antigo, com mais ou menos um ou outro e juntava-se para passeatas animadas que corriam muito bem. Daquela vez, porque estavam em férias e eram quase todos da Educação, resolveram ir à feira medieval, onde combinariam a semana no Algarve. Iam só umas tantas meninas. A senhora do ministério iniciou o percurso da feira dentro da barraca de uma cartomante, deixando o resto do grupo à espera. Todas animadas, e bem vividas, aguardaram alegremente. A senhora do ministério foi a todas as outras ofertas de adivinhação e não se sabe qual delas a avisou que algo não iria correr bem na próxima viagem ou passeio.

Claro que era estranho começar assim a planear uma viagem, mas todas, de bom humor, não ligaram à premonição. 

Chegado o dia, uma delas avisou que só poderia ir no dia seguinte. Partiram então sem ela, sem problema algum! A senhora dos mistérios conjecturou que talvez, fosse àquilo, que a senhora das cartas se referira.

A menina que chegou um dia depois, fez tão boa viagem como as que já lá estavam. Ao deitar-se, desmontou-se o estrado do colchão do sofá, que lhe estava reservado, e foi um fartote de rir, ela a pior, estatelada no chão, divertida! 

A praia estava ótima, a casa era boa e estavam felizes. A senhora do ministério e dos mistérios aproveitou para contar a sua vida e as outras também o fizeram, em particular as relações com o sexo oposto, mas não só! O ambiente tornou-se intimista, um pouco cansativo, mas resilientes, as mulheres continuaram a divertir-se muito.

No penúltimo dia, a senhora do ministério mistério estava perplexa porque não identificava a situação de que a cartomante a avisara. Nesse dia considerou que a tomatada feita por uma delas não era a tomatada que ela conhecia. Mais, não era o que se pudesse chamar de tomatada. E ao café também fez o reparo que se estava a pôr demasiado pó, e assim estariam a ser gastadoras. Foi um pouco desagradável, mas aguentaram animadas. No dia do regresso a senhora resolveu que a viagem deveria contar com uma visita ao seu guru de estimação, pelo meio da serra. E lá foram, como ela desejou. Chegados, entraram pela quintarola degradada do homem, que estava aberta, serviram-se da casa de banho e chamaram "ó da casa" e pelo nome do dono e nada - a quinta estava às moscas. A senhora dos mistérios passou toda a viagem a explicar os miraculosos poderes do guru. E, certamente, ele estava a dar formação no Porto!

Ao chegar aos arredores de Lisboa foi deixando as colegas de passeio junto às suas casas, simpaticamente. Faltou dizer que foi a senhora do ministério que conduziu! "Não vires à esquerda, segue em frente", foi-lhe dito; mas a senhora do ministério percebeu o contrário, que segundo ela, era evidente, e deu muito mais voltas até descarregar mais uma.

A senhora do ministério estava habituada a dar muitas voltas em serviços do ministério, mas não saía dele. Também corria muitos gurus dos mistérios e também não se saciava - pelo contrário! Claro que era o rapaz jovem, giro, novinho, do condomínio, com quem tinha uma aventura a olhar para a foto da namorada a sério (que ele mantinha na mesa de cabeceira), que era um malandro, quando, no estacionamento, saia do carro com a séria e não lhe ligava a ela, a outra!

Todos tinham alguma culpa, só a senhora é que não! Jesus, se ela for assim, lá na roda do ministério, terá muitas razões para desconfiar da razão e preferir os descodificadores de mistérios que lhe davam razão, a troco de publicidade e trocados. Ou inteiros.

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