O EnCanto

Quando ele canta, desfia a música em enredos de harmonia; a voz ocupa espaços táteis, por explorar! Fala do mel e de aromas quentes, betacarotenos e notas amadeiradas sul-americanas. O crispy finaliza-lhe a composição: a textura da nata que se derrete pela língua ávida afora. 

[...Ai a vida cheia de químicos de neurotransmissão e o cantor a explorá-los num trilho sagrado, com desvelo...] 

Quase inerte, pausa o canto numa aguarela de águas verdes cristalinas - praias paradisíacas das Maldivas -, e logo abusa da serpentina viscosa da voz; do borboleteio das tónicas; do suspense fatal dos sussurros.. Insolente, vira as costas, quando iria irromper o espasmo do encanto que provoca. 

«Canta para mim as flores e as cascatas do Taiti, as suas águas lisas e opalinas, etéreo e vestalino ser!»

Acordo do transe: batuca o coração descompassado já em primeiro plano; a voz dele forra de seda e veludo o cenário, enchendo totais sem borda. Agora oiço-lhe um bis repetitivo seguido de um desfiado de cordas num corpo de mulher em instrumento, e o regresso, como sempre, ao ponto certo, como se não fora possível de outro modo. 


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