Bom Dia Mário
A vida revolveu-se desde aquela época em que nos vimos pela primeira e depois pela última vez. A quarentena. Os telefonemas ambíguos.
No dia 29 de março, creio, um longo discurso sobre os Whigs e o século XIX em Inglaterra adiaram da língua o sabor a veneno. Era o quê, que me dizias?! Era sim, não, à vez, talvez? Que confusão! Aflita, vogava em tempos possíveis e intermitentes na tua estória dos Whigs. Nos intervalos, distraia-me com o aperto no peito e as linhas de pensamento que faziam perguntas e saltavam a resposta, e depois retomava a tua estória mais à frente, da qual só memorizei: os Whigs e a profusão de sentidos do liberalismo.
Naquele momento, uma pedra tumular grave e anónima levitou sobre mim e levou dois anos a cair até esmagar por inteiro memórias doces ou expetativas de amor fraterno (ou eterno?!). Qualquer coisa se esvaiu da mente e ma deixou menos capaz, porque o que nos completa, nos faz ser, e o que nos roubam de dentro, nos desfaz.
Foi no dia 29, se a memória não me trai, que os Whigs se instalaram num cadeirão burguês e lá ficaram a fazer tempo; esperaram que a minha última gota de seiva de vida-a-sério aparecesse espremida no chá que tomavam, lendo e debatendo com eloquência e a tradicional fleuma britânica, todos os teus trajetos literários e ideológicos - como eras importante, céus! Os Whigs, são o que me resta de físico e lírico, porque a pedra já não a sinto. Plantei-me noutro lugar e abandonei a parte morta, sem ressonâncias, ecos, belezas, outros-eu. Alguns amigos-bombeiro perceberam! Alguns ouviram gemer! Apenas os que estavam atentos. Muitos partiram na torrente e no caos. Não visito a morta! Nada lá permanece senão a pedra tumular. Mudei o que sobrou para um contentor hermético com um balão de oxigénio. E é tudo por hoje, Mário!
[Será que um dia...?]
No dia 29 de março, creio, um longo discurso sobre os Whigs e o século XIX em Inglaterra adiaram da língua o sabor a veneno. Era o quê, que me dizias?! Era sim, não, à vez, talvez? Que confusão! Aflita, vogava em tempos possíveis e intermitentes na tua estória dos Whigs. Nos intervalos, distraia-me com o aperto no peito e as linhas de pensamento que faziam perguntas e saltavam a resposta, e depois retomava a tua estória mais à frente, da qual só memorizei: os Whigs e a profusão de sentidos do liberalismo.
Naquele momento, uma pedra tumular grave e anónima levitou sobre mim e levou dois anos a cair até esmagar por inteiro memórias doces ou expetativas de amor fraterno (ou eterno?!). Qualquer coisa se esvaiu da mente e ma deixou menos capaz, porque o que nos completa, nos faz ser, e o que nos roubam de dentro, nos desfaz.
Foi no dia 29, se a memória não me trai, que os Whigs se instalaram num cadeirão burguês e lá ficaram a fazer tempo; esperaram que a minha última gota de seiva de vida-a-sério aparecesse espremida no chá que tomavam, lendo e debatendo com eloquência e a tradicional fleuma britânica, todos os teus trajetos literários e ideológicos - como eras importante, céus! Os Whigs, são o que me resta de físico e lírico, porque a pedra já não a sinto. Plantei-me noutro lugar e abandonei a parte morta, sem ressonâncias, ecos, belezas, outros-eu. Alguns amigos-bombeiro perceberam! Alguns ouviram gemer! Apenas os que estavam atentos. Muitos partiram na torrente e no caos. Não visito a morta! Nada lá permanece senão a pedra tumular. Mudei o que sobrou para um contentor hermético com um balão de oxigénio. E é tudo por hoje, Mário!
[Será que um dia...?]