O 31

Era meloso e entrava de finhinho a meter conversa: que bom, que lindo, olhe sou bom rapaz, e tenha cuidado com, e gosto - repetia-se - e sabia bem porque sabe bem ser apreciado, só porque sim. Ele era daquelas pessoas que, pegando confiança, lá estaria a mandar-nos aos ares e pegar-nos na queda, o que faz rir a bandeiras despregadas qualquer bebé e os eternos bebés que guardamos dentro de nós, sem ser por querer, mas porque é assim, pronto! E ele insinuava-se e ela admirava a renda que fazia com as palavras, a renda e o algodão doce, as pipocas, as fábulas, os contares infantis e mimados da província, do campo, da praia, das heranças culturais de uma geração e porque sim, apreciava o senhor. Mas  o senhor das palavras encantadas era desdobrável em mil caricaturas - foi o que ela descobriu assim que ele se apresentou em pop-up, muito saliente e evidentemente seguro de si, a pender para o campo vital dela e ai Jesus!, ela escondeu-se por trás do silêncio, fez uma cara carrancuda para as paredes de sua casa e classificou-o de: 31, o número a evitar! Não se seguia ao 30, nem antecipava o 32, era sim uma promessa de grande salganhada!

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