O professor de música
Ela e o amigo professor andavam a dar música um ao outro. Não era desafinada, até já se lhe sentira a harmonia, mas de baixo volume e suave impacto, e iam já numa, duas, três ou quatro vezes de encontros, ou até mais, discretamente como se fora uma amizade. Em matéria de sair à noite, ele era muito fixo no local de predileção: uma rua no Cais do Sodré, cheia de amigos das orquestras e respetivos familiares a lançar negócios de bar e restauração.
E aí se acomodavam junto à vitrine da antiga loja de roupa ou de meninas, apertando os pratos em cima de um lavatório vintage convertido em mesa, no restaurante sem objetos repetidos - uma moderna reutilização preceituada -, e divertiam-se, assim modestamente, mas com muita tranquilidade. Umas noites a rua enchia até ao excesso e noutras vazava, como as marés. Ela ainda se lembrava das trupes de marinheiros que por ali vogavam, junto com os clientes das discotecas vadias, e uns grupos de curiosos, onde raras vezes ela também se inscrevia, e, claro, das meninas à venda. Mas a pensão passou do amor sexual a bar de curiosidade deco-decadente e toda a rua lateral que se enfia por baixo do arco, lhe seguiu mais ou menos o estilo. E foi noutro dia, desta vez de maré vaza de turistas, que o professor de música se entendeu com o pai da sua aluna, que tinha o bar às moscas e até agradeceu a companhia - e a conversa fluiu para o lado da virtude das mulheres jovens e dos truques vãos das que o não são, mas que a eles não enganam -, que os dois homens, entradotes e da mesma geração, se ajeitaram na relação de potencial sogro e genro, e ela fez-se de distraída, ensonada e bebeu - lembra-se lá do quê -, sem pagar nada. Pagar nada?! O tempo e a paciência que ali gastou! Pior: os fígados que se lhe consumiram, os azeites que se lhe ferveram, o murro na mesa que ficou a dever a tamanha lata, artimanha, desplante e macharia! Que mundinho aquele! Que música! Ainda por cima trouxe um aro de barril inscrito no traseiro, onde o vendedor do bar e da filha, os sentara - uma pelintrice decorativa!
E aí se acomodavam junto à vitrine da antiga loja de roupa ou de meninas, apertando os pratos em cima de um lavatório vintage convertido em mesa, no restaurante sem objetos repetidos - uma moderna reutilização preceituada -, e divertiam-se, assim modestamente, mas com muita tranquilidade. Umas noites a rua enchia até ao excesso e noutras vazava, como as marés. Ela ainda se lembrava das trupes de marinheiros que por ali vogavam, junto com os clientes das discotecas vadias, e uns grupos de curiosos, onde raras vezes ela também se inscrevia, e, claro, das meninas à venda. Mas a pensão passou do amor sexual a bar de curiosidade deco-decadente e toda a rua lateral que se enfia por baixo do arco, lhe seguiu mais ou menos o estilo. E foi noutro dia, desta vez de maré vaza de turistas, que o professor de música se entendeu com o pai da sua aluna, que tinha o bar às moscas e até agradeceu a companhia - e a conversa fluiu para o lado da virtude das mulheres jovens e dos truques vãos das que o não são, mas que a eles não enganam -, que os dois homens, entradotes e da mesma geração, se ajeitaram na relação de potencial sogro e genro, e ela fez-se de distraída, ensonada e bebeu - lembra-se lá do quê -, sem pagar nada. Pagar nada?! O tempo e a paciência que ali gastou! Pior: os fígados que se lhe consumiram, os azeites que se lhe ferveram, o murro na mesa que ficou a dever a tamanha lata, artimanha, desplante e macharia! Que mundinho aquele! Que música! Ainda por cima trouxe um aro de barril inscrito no traseiro, onde o vendedor do bar e da filha, os sentara - uma pelintrice decorativa!