Coisas da Vida

Esta mulher acha que sabe da minha vida! Escreve sobre mim: passei de mentor a musa! Acerta pontualmente - como no pontilhismo Seurat consegue mostrar a paisagem com falhas aqui e acolá.

Hoje, por exemplo, depois das compras de última hora para a noite de Natal, telefonemas e combinações, estamos no final do almoço, com as garotas dela em algazarra a falarem por telefone com metade do mundo dos dois hemisférios e dos vários pontos cardeais. Ela passa por mim e acerta-me com um beijinho casto quando voa de sala em sala, de quarto em quarto, em particular frequência para a cozinha. Percebo a ideia, também conto ajudar, mas por agora estou a passear pelas redes sociais e a ver as mensagens natalícias dos amigos e, apercebo-me que a Maria me está a provocar - não se limita a imaginar a minha vida, como se põe a remexer no meu passado e faz questão de mostrá-lo, assumindo que eu vejo a sua página. Bem, é Natal, não vou implicar, até porque o faria apenas comigo mesmo. A minha atual é ciumenta, nem pensar abordar o assunto com ela. De resto, quem mais estaria interessado em histórias de afetos frustrados na noite de Natal?! Mas isto mexe comigo e ela já deu conta e aproximou-se. - "deixa eu ver! Está muito absorvido e a fazer caretas. Que foi?" - "Nada amor", respondo eu, - "só umas opiniões sobre a COVID". E pronto, retorno a atenção às miúdas no seu folclore carnavalesco, barulhento, primário, carregado de calão e mau português, mas acho-lhes graça, por enquanto! 

A Susana, será que me vai enviar mensagem de Natal? E a professora de contemporânea?

Bem, vou-me desculpar com a necessidade de telefonar, para ir para o quarto, mais silencioso. Mal me ajeito sobre a cama e leio isto! Isto. Que estais também a ler! Inferno! E ainda outras publicações provocatórias: como diabo conhecia ela o "académico"?! Da Faculdade de Letras? Mas diz que começou a conversar com ele há pouco tempo - enigmático!

A mais-que-tudo-é-só-amô chega ciumenta com a roupa a saltar pelos ares, encosta-se seminua a mim enquanto navega nas múltiplas relações virtuais; eu também salto pelas minhas - com algum cuidado - não que a traia, pois estou sem paciência para complicações. Mas tenho saudades da Susana, do seu imenso nível: a mulher mais extraordinária e bonita que conheci! E, além do mais, uma doçura tranquila; eu costumava perpetrar os seus segredos no silêncio, escondidos em recantos atraentes do seu corpo maduro e encantador! Esta é quente e fulgurante, mas falta-lhe a subtileza da inteligência profunda e desconhece o valor do silêncio. Oferece-me a sua pele macia nas almofadas de gordurinha sedutora - mais subtis agora com a dieta radical - e a pele texturizada por aglomerados de sardas enormes, como pintarolas, que diz serem herança genética do "Norte da Itália" - os brasileiros adoram ter ascendência da Europa, em particular de Itália, vá-se lá saber porquê?! Eu aceito tudo, da excitação às explicações fantasiadas. Viva o carnaval!

E é assim a vida calma que escolhi, paga a crédito com as expetativas - que apenas não contrariei; nunca disse que sim - de futuro casamento, ajuntamento, ou algo do género, com contas pagas por mim! Mas, nesse caso, que sentido tiveram as opções de há uns anos com a Susana?!

As mulheres intelectuais perdem muito por não descer desse pedestal nas relações com os homens! As sul-americanas sabem ativar arquétipos e levar a água ao seu moinho! Não tarda, estarei comprometido e sem força anímica para vincar posição: -"seja como desejares, amor!" 

Desculpa Susana, fui tão infantil contigo! Bom Natal!

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