Inutilidade

Penso que sou preguiçosa na escrita. Revejo pouco. Quase nada corto. Quando vejo o que outros escrevem... Bem!, fico perplexa se hei de melhorar ou desistir. Mas tem um lado que posso chamar de existir, ficar mais rica, uma esperança de ser lida, que me mantém a dedilhar como uma tola! Não vale a pena, claro, como tudo o que fiz na vida, foi apenas um processo de oxidação, uma energia transformada segundo a lei de Lavoisier, um pontinho visível num caos desnecessário. Tanto fazia ter existido ou não. Nada, absolutamente nada nem ninguém ficou tocado com esta existência: inútil! Mas difícil de gerir, para mim! Uma ovelha. Mansa. Encurralada. Às vezes a tentar outro caminho, mas logo revirando para não ser esmagada. Como será o fim que se avizinha?! Torturante?! Mais do que a minha própria vida?!

Palavrinhas boas - ouvi-as, mentirosas! Nos momentos-chave, só os meus ecos! Apenas um gato! Um gato, me amou! E vá lá, um gato, amou-me maravilhosamente. Tive sorte com o meu gato!

Tenho dentes para cerrar! Máscara difíceis de acertar nas formas do rosto! Pele a destacar-se do músculo, lentamente, mas com certeza.

É só esperar. Clarividente. Fingindo existir. Sou uma pecinha que nem dão conta existir, por detrás do cargo, do papel e das falas codificadas. Se eu soubesse por onde fugir, nunca mais ouviam falar de mim. 

Como se chamava? O que aconteceu? Dois dias e limpavam-me da memória, aqueles que agora cobram a minha vida em nome de trabalhos tão indispensáveis quanto as suas burocráticas máquinas de fingir.

É verdade! Agora sinto claramente que me querem o sangue! Não é por nada! É preciso apertar alguém dada a falta de espaço, de ar! Há que roubá-lo, se for necessário, ao diferente em primeiro lugar. A diferente sou eu. Ou também eu! 


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