Lavagem da cabeça
Sento-me na cadeira reclinada indicada pela cabeleireira para lavar a cabeça. Cumprimentos, escolhas do menu dos champôs, complementos e promoções. E depois das banalidades ela começa a sessão de massagens no crânio. Ainda me atenho a inquirir onde terá ela aprendido, se é reflexologia, mas logo os botões começam a desligar um por um até ficar a ouvir a música das pontas dos dedos em arcos perfeitos de pressão, o cansaço e a má disposição a escorrerem para o cano da água, o peito em expansão respirando sem bloqueios e solto uns mudos: "isso", "aí mesmo", "pode repetir"? E sem ouvir um único som do que nem disse, a cabeleireira massaja a meu pedido telepático e até para além dele, fazendo esquecer que o tempo tem partes que nos subjugam através dos relógios. Acordo depois, meia dormente, para a música do salão, sabendo que se quiser amolecer ainda mais, é só fazer a máscara a quente e ficar por ali a hibernar mais cinco minutos! Muito obrigada, ensaio dizer-lhe, agora de modo audível! Ela sorri, terminando a dobra (e a obra) do turbante da toalha de turco na minha cabeça. Benditos orientais turcos e turbantes e massagens relaxantes reinventadas por todo o lado.
Depois é a coragem necessária para passar pela turbina do secador e puxões de cabelos aqui e acolá, durante tempos infinitos para cabelos vastos, e voilá, saio catita, a pensar que a parte melhor da coisa foram as reviravoltas envolventes no ponto reflexo 16, 19 ou 20 do vaso do governador, o Fengchi ou ponto do vento, que liberta o Qi da cabeça, mantendo o QI intacto, e mais outros passes mágicos, talvez tailandeses. As benesses da globalização do tratamento por bem-estar e prazer! Ainda eu resmungo com o autocuidado! Deste, sim!