Nádia
A Nádia era um junquinho, dobrava-se facilmente à menor brisa, e, no entanto, não quebrava! As desavenças com a mãe já tinham barbas, acusavam-se mutuamente na esquadra da polícia - era um estilo de vida. Interpelada, a mãe repetia acusações ao ex-marido, que agora vivia bem: casara de novo e tivera filhos. Outros filhos. De vez em quando vinha buscar as duas que tinha com ela, que tudo fazia para lhes dificultar a ida. E, realmente, a Nádia detestava o pai, por nada mais do que por ter "deixado" a mãe. A mais nova não vestia camisolas ou tomava partido e assim lá andava feliz. Já a Nádia parecia o tal junquinho, frágil, fácil de dobrar, teimosa - vestia a pele da mãe despeitada. A mulher trajava de negro como uma viúva, sem estilo, apenas se encobria, se dissimulava a inveja, o despeito ou o desejo. Era a perfeita vítima e aí estava a prova: a filha infeliz e difícil. Para seu horror, a Nádia também a detestava a ela.
Mas um dia mãe e filha fizeram as pazes. Passeavam, tinham aspirações. Inundaram-se de cor! É que a Nádia namorava! Segredando, a mãe contou às amigas que o namorado da filha adolescente, que era já adulto há uns anos, assassinara o próprio pai. Mas não iria dizê-lo à Nádia, para ela não ficar triste. Entretanto, até o achava bom rapaz. Quem não precisa de uma segunda oportunidade?! Trabalhava como mecânico, tinha carro, levava-as, mãe e filha, a passear. Davam-se bem e a rapariga até se começou a vestir de mulherzinha com as ofertas dele!