O Centro Comercial de Alvalade

O Centro Comercial de Alvalade nasceu em 76, lembra-me o Google; o resto vem mesmo inteirinho do rabiar da memória. O maior destaque vai para o aroma que nos recebia, quer entrássemos pela porta principal, quer pelo túnel do metro: indescritível, irrepetível! Na cafetaria, disposta ao comprido do corredor, havia babás de rum a piscar-me o olho, e eu, pois sim! Já que estava mesmo no paraíso, lambuzava-me! Depois, fazia o percurso do corredor principal vendo os retratos a carvão, uns livros expostos, marroquinaria e outras distrações visuais, puros cenários sem figuras de grande relevo; virava à esquina e metia-me no beco onde me aguardavam as águas cristalinas das Caraíbas ou da Ilha da Páscoa, ou de outros paraísos!... Pequenos e delicados tesouros brilhavam na luz dos foco de halogéneo, num fundo de escuridão da montra da joalharia. Os tetos ofereciam uma música  jazzística e, de entre todos os mergulhos disponíveis, eu apontava os olhares do coração à pedra de água-marinha, que cintilante vibrava em ressonância com o meu futuro promissor. Ficava tempos infinitos naquele cantinho por onde poucos passavam, olhando a maravilha aquosa, lapidada, inacessível, a tornear um sonho confuso de um futuro pouco provável. No regresso, de orelha caída, flashava o olhar pelos cartazes da agência de viagens, com promessas que não desvendava mais do que o tempo de passagem lenta e cabisbaixa permitiam. Volvia ao corredor principal, aos retratos a carvão, à marroquina; reparava na sapataria, nas empregadas e suas patroas empreendedoras ainda pouco experientes; e o aroma do café regressava e preenchia-me a alma de raízes e de presença! Ali, eu era quase feliz. Acho que fiquei meia por lá!

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