O Enxoval
Quando quero referir-me a um rol de coisas, geralmente inútil, designo-o por enxoval. Quando era pequena, havia essa estranha coisa do enxoval! Via as mães pôr numa arca: naperons, lençóis, e outros panos. Ofereciam às garotas, desde pequenas, tecidos bordados, aprimorados, úteis, para um futuro em que seriam mulheres casadas. Eu quase não tinha nada. Mal me apercebi da congeminaçao para nos formatar, resmunguei e deliberei que não queria enxoval. Tomei-o por violência contra a autodeterminação do meu futuro, mas não pude impedir todas as ofertas. E assim, um paninho de tabuleiro da avó amorosa, ainda vive na minha casa - vi-a comprá-lo e não percebi ao que se referia; foi a primeira oferenda. Mais tarde, tive que perdoar a avó por não vislumbrar a minha emancipação. Às vezes, as mães abriam as suas próprias malas de enxoval, onde residiam lençóis, atoalhados e rendas inúteis, que pareciam guardar o futuro passado. Sonhos. Não os "metiam a uso", por pena, diziam, mas era mais...