Noites Vãs
Estou sentado à minha secretária. A cismar. A gata do jardim expira a sofreguidão em gritos lúbricos. A memória asperge o champanhe do meu casamento: clap! Fchchch! Não me demoro neste flash. Outro esguicho traz-me a lágrima que turvou a primeira vez que vi o meu filho em aromas de éter. Inspiro longamente - o ar cheira a bactérias em decomposição das folhas mortas da begónia aqui à frente. Tenho a janela do quarto escancarada. Está um friozinho de primavera marota! Retorno ao vegetal de eleição, agora orlado de prata lunar. Tenho tido longas conversas com este meu "pé de laranja-lima", o meu mindinho. Recebo conselhos. Mas não sou um romântico. Fecho a janela porque está frio e quebro a conversa onde calha, deixando a planta a falar sozinha, ou talvez com a gata. Faço voz paterna para trazer os meus podengos prá mesa. Fracasso. Segue-se um ronco hitleriano. Por magia, tenho num instante, a mesa plena. Olho para o design dos dois rostos. Saíram à mãe! Nem piam! Nem para pedir...