O Rio
Ao fundo, o rio parece uma serpente de prata a esgueirar-se na paisagem. A mulher está debruçada na margem da piscina de borda infinita a olhar o rio que se afasta devagar, cone após cone de montanha riscado por pés de videira escorreitos, sem míldio ou ferrugem, enfileirados e orgulhosos da sua casta. Ah! Quem vir o rio escorrer assim, inocente, não imagina o molde frio que envolve o homem que nele mergulha, que inesperadamente se sente só e descobre o cheiro a verde-podre e o lodaçal que chega a puxar-lhe os pés com avidez; as ervas a prender-lhe os cabelos; laços e enredos junto aos tornozelos e às mãos que os desemaranham, enquanto os peixes curiosos e indiferentes debicam a pele num toca e foge... mas o homem desimpede todas as ramificações do próprio corpo e forma depois um conjunto harmonioso com a superfície do rio deslizando nela; a barriga bronzeada virada para cima, agora que já se sente seguro, descansa, respira fundo. A mulher não o vê nem ele a vê a ela, tão longe qu...